Os japoneses são fascinados pela chuva. Há cerca de 400 denominações para diferentes tipos de chuvas, desde os tufões até os chuviscos. Muitas, de uma poética sem igual. O que dizer de Namida-ame (涙雨) chuva-lágrima, aquela chuvinha de pingos, que parece um choro rápido? Não é por menos que o escritor Tanizaki Jun’ichiro discorre sobre uma chuva por longas dez páginas em seu livro “As Irmãs Makioka” ( 細雪Sasameyuki), publicado pela Editora Estação Liberdade, e magistralmente traduzido por Leiko Gotoda.
Também nas artes plásticas, e mais precisamente no mundo das gravuras, a chuva de primavera é retratada como um fenômeno delicado de um estado etéreo da natureza.
A chuva de primavera é chamada de Harussame (春雨, literalmente haru = primavera, e (s)ame = chuva. É uma chuva delicada e silenciosa, por vezes, intermitente.
Gravura de Kasamatsu Shiro
Harussame é também o nome do macarrão de fécula de batata ou batata doce, ou de amido de arroz ou feijão mung, delicado e transparente como a chuva de primavera. Sem gluten, é o noodle preferido dos celíacos. É conhecido também como espaguete-celofane, devido à sua aparência translúcida.
Você encontra receitas de harussame em vários restaurantes japoneses. Infelizmente saiu do cardápio do Restaurante Kinoshita, mas esta receita era espetacular. Lá, o harussame vinha na companhia de tenros pedaços de camarão e polvo, legumes e cogumelos, gergelim torrado, ornamentado com cebolinha e folhas de beterraba. O tempero? Shoyu, caldo dashi e leve toque de óleo de gergelim.