Matéria originalmente publicada na Revista Hahistag Edição #24 Outubro 2017
Arquiteto conhecido pelos projetos de restaurantes sofisticados revela seu processo criativo em entrevista para a Hashitag.
Visitamos o atelier do arquiteto Naoki Otake logo após seu retorno de Milão, na Itália, onde foi receber o prêmio internacional A’ Design Award, na categoria Espaço Interior e Design de Exposição.
Primeiro, perguntamos como foi a solenidade. “Era tudo muito glamuroso, diferente das premiações aqui no Brasil, que são mais informais”. A premiação foi na cidade de Como, distante cerca de 50 km. de Milão, e foi regado “a muito Prosecco e muito queijo”. É uma premiação internacional, e designers e arquitetos do mundo todo estavam presentes, especialmente europeus e asiáticos. Naoki foi premiado pelo projeto do restaurante Nakka dos Jardins (Rua Padre João Manoel, 811, em São Paulo).
Naoki já havia conquistado o prêmio da revista Casa Claudia, com o primeiro Nakka no Itaim. Sinal que a casa está dando muita sorte para o arquiteto.
E quais foram as características do projeto que levaram à premiação? “É difícil saber, porque o corpo de jurados não divulga seus comentários”, pondera Naoki. “Mas acho que talvez eles se surpreendam porque estamos num país tropical, propondo uma arquitetura com elementos japoneses”, suspeita o arquiteto.
Realmente, a arquitetura de Naoki Otake tem como destaque a inspiração no estilo sukiya da arquitetura mais tradicional japonesa, com ênfase em conceitos como o wabisabi, a estética da transitoriedade e da imperfeição que os japoneses amam.
E não existe um medo pelo estigma de ser categorizado como um arquiteto que faz arquitetura japonesa no Brasil? “Pelo contrário, amigos identificam características que são peculiares ao meu traço e ao meu design. De uma certa forma, estamos criando uma linguagem com os nossos projetos e isso me conforta, porque posso me posicionar esteticamente”, define-se Naoki. São as escolhas dos materiais, tipo de linha que fazem o estilo de Naoki, mas ele garante que está sempre pesquisando novos elementos. “A nossa proposta é sempre contemporânea, mesmo numa arquitetura com inspirações japonesas”, reforça Naoki. “Nós não somos muito capazes de fazer coisas rebuscadas, procuramos a limpeza dos traços”.
Essa limpeza dos traços é encontrada na arquitetura japonesa tradicional, mas também na Bauhaus, movimento estético que surgiu na Alemanha em 1919 e foi a responsável por criar os alicerces do Modernismo na arquitetura. A arquitetura moderna tem uma base muito forte na arquitetura japonesa. Arquitetos consagrados como Mies van der Rohe parecem ter se inspirado na arquitetura japonesa, constata Naoki. Com exceção da laje, todos os outros princípios da arquitetura modernista existem na concepção da arquitetura japonesa, como a planta e a fachada livre, janela em fila e até mesmo os pilotis.
A vivência nos mosteiros zen também contribuiu decisivamente para que Naoki entendesse a arquitetura por dentro. Este detalhe é muito importante, pois muitos estudam academicamente a arquitetura, mas poucos se aventuram a viver dentro dela, para entender o significado de seu universo espacial e a sua anatomia. “Foram três anos dentro de um templo, e mesmo depois, trabalhando em um escritório de arquitetura em Tokyo, especializado em arquitetura tradicional, o que é uma atividade rara até no Japão” relembra Naoki. Enfim, trata-se de entender o japonês, sua filosofia de vida, para entender a arquitetura em sua plenitude.
Arquitetura gastronômica é uma área de especialização de Naoki. Ele assina o projeto de restaurantes como Attimo, Clos, Kinoshita, Nakka, Toro, Hou, NoAr (o novo restaurante do aeroporto de Congonhas). Todas estas obras têm em comum, a sintonia com as linhas limpas e contemporâneas.
Mas a alta gastronomia está em crise, neste momento econômico no Brasil. Hoje, alguns clientes procuram Naoki para uma solução para um restaurante com um tíquete médio mais baixo, mais sintonizado com o momento presente. Nesse contexto, lembramos do izakaya, o típico boteco japonês. Naoki ainda não projetou um izakaya, mas se ele fizer um projeto de izakaya não mergulharia na arquitetura típica de izakaya. “Simples sim, bem japonês, não pode ser sofisticado, mas contemporâneo, acima de tudo” adianta Naoki, caso um cliente se interessar.
E a filosofia mottainai, o comportamento da contenção e da economia? “Sim, claro. Energia renovável, iluminação natural são fatores já adotados por Naoki nos projetos realizados. Madeira maciça já saiu das especificações de projeto, sempre indicamos laminado, por conta da consciência ecológica”, revela o arquiteto. “Não só em projeto de arquitetura mas em tudo. A preocupação com o coletivo, novas maneiras de trabalhar como o co-working, estão na pauta do momento”.
Um fator que chama a atenção nos projetos de Naoki é a luz. Há sempre muita luz natural, como é o caso do projeto do Clos. Mas também iluminação cênica, com o jogo de claro e escuro, bem na linha da estética wabisabi da arquitetura japonesa.
E por fim, já que cada obra realizada é como um filho para o arquiteto, pedimos a Naoki que escolhesse o seu filho predileto. “O meu projeto completo é o Kinoshita”, revela. “Foi o primeiro grande trabalho que fizemos com o empresário e restaurateur Marcelo Fernandes. Houve um respeito muito grande por parte do cliente, em valorizar nossas propostas e opiniões. Foi aprovado na primeira reunião de apresentação do projeto. Aliás, isso tem sido uma praxe. Quase todos os nossos projetos comerciais são aprovados na primeira reunião”, comenta Naoki, não escondendo sua satisfação. “O Kinoshita é uma caixinha de joias. Cada canto do espaço foi detalhado, esmiuçado. O balcão, o jardim, a sala de tatami, a escada. Deu um enorme trabalho, mas foi extremamente gratificante. Um trabalho de artesanato, diria”.
Mas talvez o trabalho épico mesmo tenha sido o Clos, que em sua origem se chamava Clos de Tapas. Também iniciativa do empresário Marcelo Fernandes, e situado a poucos metros do Kinoshita, a proposta de um restaurante espanhol contemporâneo foi precedida de uma viagem de pesquisa pela Espanha, onde foram incluídas visitas técnicas a grandes templos da gastronomia como o “El Bulli” de Ferran Adrià. “Os dias eram intensos na viagem. Almoço, jantares e entre eles muita pesquisa de arquitetura”, lembra Naoki. Mas compensou. O restaurante Clos foi eleito pela Revista Época, um dos cinco mais belos estabelecimentos da cidade de São Paulo.
Apesar da conjuntura brasileira, com o mercado retraído, Naoki é realista: o momento realmente não é o ideal para grandes vôos arquitetônicos. Mas sua esperança por dias melhores está à flor da pele. Ressalta como exemplo, o restaurante Toro, também em São Paulo, desenvolvido a baixo custo, com serviço de pedreiro e problemas de acabamento, mas com resultado satisfatório no conjunto.
Site Naoki Otake Arquitetura e Design
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