Osechi-ryôri: o banquete do início do ano

O Japão não tem tradição cristã. Por isso, as comemorações de Natal são meros pretextos comerciais. É no Ano Novo que o Japão capricha. E no quesito culinária destaca-se o Osechi Ryôri (お御節料理), um verdadeiro banquete para começar o ano bem. Como os três primeiros dias do ano são feriados (conhecidos como Sanganichi), quase todos os restaurantes fecham as portas. O osechi ryôri é essencialmente uma culinária doméstica, preparada tradicionalmente pelas donas de casa, para oferecer às visitas de parentes, durante estes dias de reclusão. A tradição de deixar preparado um banquete para estes dias de reclusão de início de ano começou na era Heian (794-1185) e incrivelmente, perdura até hoje. É verdade que as coisas ficaram bem mais práticas. Você pode encomendar um conjunto de Osechi Ryori na seção de alimentos dos grandes department stores. As lojas costumam trabalhar com reservas, com antecipação de meses. Até as lojas de conveniência se preparam para esta data, oferecendo um Osechi Ryori bem mais simples e mais em conta, sem perder o charme e ar de festividade. 

Osechi da rede de lojas de conveniência Seven-Eleven. Este da foto custa 18.360 ienes (cerca de R$ 900,00) e é ideal para 3 pessoas. É campeão de vendas da rede.

 

A rede Lawson lançou este, também de 3 andares, com o melhor da culinária japonesa Kappo, com ingredientes da estação. Custa 17.500 ienes (R$ 850,00) para 3 pessoas e o anúncio diz que já está esgotado.

O chef Shin Koike preparou este típico conjunto de Osechi Ryori para a produção do livro “A Cor do Sabor: A Culinária Afetiva de Shin Koike” (Jo Takahashi, Editora Melhoramentos). O prato não é encontrado em restaurantes.

O osechi ryôri tem uma conotação religiosa. É uma oferenda aos deuses, desejando uma colheira farta, paz e tranquilidade para a família e prosperidade aos filhos e descendentes.

Todos os alimentos que compõem o osechi ryori são acondicionados em finas caixas laqueadas, chamadas “jûbako”, literalmente, caixas empilhadas. Aqui temos três caixas justapostas, cheias de iguarias. Como estas caixas ficam à disposição das visitas durante alguns dias, não recebem ingredientes crus, como o sashimi.

Quer saber o que cada caixa contém? Vamos dissecar as caixas?
Na primeira caixa, o Ichi-no-Jû, entram pequenos aperitivos, que são saboreados com uma dose de saquê. Os mais comuns são kazunoko (ovas de arenque, que aqui receberam folhas de ouro, para dar uma conotação de celebração), o kuromame (soja preta), o kamaboko (massa de peixe, semelhante ao gefiltefish), omelete doce feito com dashi, o caldo essencial extraído do peixe bonito seco e alga kombu, os tazukuri (filhotes de peixe caramelizado com açúcar, shoyu e mirin).

Na segunda caixa, o Ni-no-Jû, recebe as iguarias grelhadas. Peixe pargo e camarão são as estrelas desta caixa. O chef Shin deu um toque brasileiro a este conjunto, introduzindo aqui um filé de pirarucu grelhado e finas fatias de picanha, enrolando aspargos ao molho de missô com maracujá.

E para a terceira caixa, o San-no-Jû, entram os legumes cozidos em caldo dashi e shoyu. Aqui estão a kabotchá (abóbora japonesa), inhame, cenoura, enormes cogumelos shiitake, gobô (bardana), renkon (raiz de lótus), konnyaku (uma gelatina firme feita de batata) e gengibre.

Feliz Ano Novo com muito sabor e arte!

 

 

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