“Chirarismo” nas gravuras japonesas. “Chirari” é uma onomatopeia usada para “espiada”, empregada usualmente com uma conotação erótica. Trata-se de um olhar furtivo, rápido, às escondidas, onde o observador se aproveita de um momento de descuido, provocado por um fenômeno natural inesperado, como um vento mais forte ou a chuva, para dar uma espiada nas consequências: o kimono deixando entrever as pernas ou o peito de uma beldade. O gravurista de Ukiyo-e Suzuki Harunobu (1725-1770) foi um mestre em retratar estes momentos. Cronista visual da era Edo, Suzuki retratou beldades enfrentando a chuva de verão. Harunobu foi um mestre também em Shunga, as gravuras eróticas. Por isso, sua inclinação para explorar “espiadas” eróticas em cenas do cotidiano foi de certo, intencional.
“Chirarismo” não é nenhum movimento artístico nem estilo de representação. Seria o equivalente a “voyeurismo”, uma espiadela em momentos de fraqueza. Puros registros do mundo flutuante, que eram os ukiyo-ê.