Dias de confinamento. Mesmo em ambiente assim, o Museu do Café, tradicional instituição que difunde a cultura do café na cidade de Santos, SP, resolveu dar continuidade ao projeto que originalmente foi lançado no dia 12 de março, como uma das atividades programadas para a comemoração de seu 21º aniversário. Naquele momento, os ventos da pandemia ainda não haviam chegado ao Brasil. Com a disseminação mais acelerada do coronavírus no Estado de São Paulo, o Museu foi fechado para visitação pública, mas uma atividade, pelo menos, está sendo levada a cabo, mesmo que remotamente. Trata-se do concurso “A Xícara do Museu“. A curadoria deste concurso ficou a cargo da ceramista Hideko Honma, que vem se destacando neste segmento. Além de ser a idealizadora e diretora do “Sukiyaki do Bem“, evento anual que integra atividade beneficente com gastronomia, assinou a curadoria do “Chawan Project”, uma série de palestras com ceramistas japoneses que culminou com a realização de um documentário, projetado na Japan House São Paulo e na Embaixada do Brasil em Tóquio.
O concurso está dividido em duas categorias, utilitário e conceitual, e as xícaras deverão ser feitas manualmente em cerâmica. As melhores peças serão expostas no museu e poderão depois ser usadas e mesmo vendidas na loja da instituição. Já o primeiro lugar de cada categoria receberá como prêmio uma viagem ao Japão, para conhecer tradicionais centros produtores de cerâmica. O segundo lugar ganhará 5 mil reais em equipamentos de cerâmica.
A seleção terá três etapas, e a inscrição para a primeira fase vai até 31 de maio. Confira o edital no site do Museu.
Para esclarecer os conceitos que norteiam este concurso, foi programado uma série de palestras online conforme a sequência abaixo. Todas as conversas poderão ser assistidas na íntegra pelo Instagram do grupo Cerâmica Contemporânea Brasileira (CCBr).
A ideia do concurso surgiu durante uma visita que Hideko fez ao Museu do Café, ainda em 2018, como parte de uma comitiva formada por representantes do Consulado Geral do Japão em São Paulo e da Fundação Japão. Na ocasião, a diretora do Museu, Alessandra Almeida, comentou com a ceramista que gostaria de ter xícaras que pudessem ser vendidas na loja do museu ou usadas no café. O museu ocupa o prédio que abrigou, por décadas, a Bolsa Oficial do Café, e é dedicado a preservar e divulgar a memória do café e seu papel no desenvolvimento social e econômico do País.
Para melhor elaborar o concurso e ampliar o seu alcance, o grupo Cerâmica Contemporânea Brasileira (CCBras) foi convidado para participar do projeto.
No dia do lançamento do concurso, e como parte das atividades comemorativas do aniversário do Museu, foi realizada uma oficina de xícaras, em duas sessões, para 80 pessoas de diferentes faixas etárias. Para alguns, a manipulação da argila e o uso de tornos foi um acontecimento inédito. A oficina foi ministrada por Hideko Honma e pelos ceramistas Kenjiro Ikoma, Eliana Kanki e Fatima Rosa, do CCBras, e por Maria Angelica Dias, do atelier Morro do Bambu.
O Museu do Café espera que, com o curso, surjam propostas de xícaras que reflitam a diversidade cultural do país. É uma maneira de incentivar também as pessoas que pretendem se iniciar na arte e no ofício da cerâmica artesanal.
“Tempo e paciência” tem sido o mote usado pela ceramista Hideko Honma para definir o momento presente em suas redes sociais. É um momento de isolamento, mas de reflexão, de incubação. Em momentos assim, a arte deve se manifestar, segundo a ceramista. É um momento que pode ser aproveitado para estudar mais as técnicas de modelagem, de queima, tipos de cerâmica e até de esmaltação. A internet possibilita o alcance de muitas informações e o concurso, um estímulo para mostrar ao público os seus estudos.