Bentô, ou Obentô (お弁当)é um termo que se internacionaliza. São as marmitas japonesas, comida para viagem, para levar ao trabalho ou para o piquenique. Japoneses adoram comer obentô durante trajetos longos, especialmente em suas viagens de trem. Não é exagero dizer que o obentô é hoje uma categoria de alimentação e uma das fortes marcas da gastronomia japonesa.
O obentô se desenvolveu ao longo da história japonesa e é constituído de arroz, uma receita principal, vários complementos, especialmente de legumes e verduras em conserva e sobremesa. A harmonização na apresentação, a preocupação com o equilíbrio nutricional e a representação da estação do ano são essenciais na elaboração do obentô. É um mini-universo gastronômico dentro de uma marmita.
Alimentos transportáveis existem em todas as culturas, mas no Japão esse costume adquiriu contornos muito peculiares. Hoje, a tecnologia possibilita embalagens não só térmicas, como aquelas que possuem dispositivo para esquentar o conteúdo no momento apropriado e com total segurança. É divertido procurar as marmitas Bento Box nas lojas, de formatos e design bem diversificados. Particularmente, os de madeira ostentam um charme todo especial.
Nas livrarias, pilhas de livros e revistas sobre Obentô. E até os restaurantes de luxo se rendem a este costume, oferecendo Obentô que são verdadeiras perdições. O obentô do Kitcho, um dos restaurantes mais tradicionais do Japão é um verdadeiro luxo e pode custar até R$ 400,00.
Origem do Obentô
O registro mais antigo sobre a comida transportada para fora é encontrado em “Kojiki” (古事記 Crônica de Assuntos Antigos), escrito por volta de 712, no período Nara (710-794). Lá, o obentô era chamado de Mikarehi (御粮). O arroz transportado era desidratado e durava muitos dias, mas era preciso mastigar bastante para poder engolir. Já na era Heian, surgiram os primeiros oniguiri, bolinhos de arroz, chamado Tonjiki (頓食). A denominação Bentô surgiu na era Azuchi Momoyama (1573-1603), na época do shogun Oda Nobunaga. Em sua origem era escrito como Bentô 便當 e significava “prático”. Conta a história que o general Oda Nobunaga mandava preparar alimento para os trabalhadores durante a construção do Castelo Azuchi em grandes tinas. Durante as guerras, porém, o general inovou, criando marmitas individuais para seus soldados transportarem para o campo de batalha.
A caixinha de Obentô
O Obentô Bako (marmita) teve uma grande evolução na era Heian (794-1185), quando foi inventada a caixinha com compartimentos. Já na era Azuchi Momoyama começaram a ser produzidas marmitas em caixas sobrepostas, os chamados Jûbako (重箱), transportáveis e com compartimentos sob medida para introduzir o hashi, pratos para se servir e até copinho para beber o saquê. Eles eram levados pela aristocracia para os piqueniques à sombra da floração das cerejeiras na primavera, ou no outono para apreciar o colorido das folhagens. Este costume de se deliciar com receitas elaboradas especialmente para comer ao ar livre não mudou nada. Já a plebe, que não tinha condições de ter marmitas luxuosas, feitas de laca, contentavam-se com recipientes feitos com folhas de bambu.
Hoje, as marmitas mais amadas pelos japoneses são os de madeira hinoki, que exala um perfume muito agradável e intensifica o prazer de comer.
A popularização do Obentô
Isso aconteceu com o fim das guerras do período Sengoku. Na era Edo, caracterizado pela consolidação da paz e a ascensão da classe operária e a difusão do comércio. O povo passou a imitar a aristocracia nos piqueniques e refeições ao ar livre. Foi nessa época também que surgiram os yatai, as carroças de vendedores ambulantes que serviam sushi e tempurá, dando início à indústria da refeição fora de casa. O obentô nessa época passou a enfatizar a estética também, com combinações exuberantes, de grande apelo visual. Hoje o obentô é considerado uma categoria da gastronomia japonesa, que sintetiza todos os conceitos do washoku.
Para transportar o obentô
Aqui também, a sabedoria japonesa está presente. Trata-se do furoshiki, o pano de embalar. Além de ser prático, o furoshiki pode ser escolhido de acordo com o clima, expressando a sazonalidade. Muito cool e atual, sintonizado com o momento em que precisamos pensar no reuso consciente dos materiais.
Viajando com obentô
Um charme é viajar, de trem ou de ônibus, pelo Japão, apreciando a paisagem e comendo obentô. Caixinhas de comida fresquinha, pronta para o consumo, estão disponíveis nas estações de trem. A sofisticação é tanta que cada estação de trem tem o seu obentô característico. São chamados de Ekiben (literalmente, eki=estação e ben=abreviação de bentô), e as marmitas locais enaltecem os insumos da região e prezam pela sazonalidade.
Olhem só que chique são essas “marmitas”. Existem obentôs temáticos, com uma receita regional e que são o orgulho do local. Ou então, os obentô mistos, com um pouco de tudo. Estes geralmente, vêm com arroz, conservas de legumes, omelete, fritura, cozido, uma carne e tudo em pequenas porções, prontas para serem saboreadas com o hashi.
O ekiben começou a se tornar popular por volta de 1880, quando a malha ferroviária começou a se consolidar pelo Japão inteiro, e quando comércio e serviços começaram a se intensificar, provocando mais mobilização de pessoas. Em trajetos de uma ou duas horas é muito comum os viajantes entrarem no vagão já munidos de obentô comprados nas estações. Já para trajetos mais longos, há tempo e espaço na barriga para apreciar mais de um obentô. Nestes casos, é comum o passageiro esperar chegar a uma estação onde há um obentô famoso, com culinária típica. Estes obentôs podem ser adquiridos na própria plataforma do trem, aproveitando a parada de poucos minutos, ou mesmo no serviço de carrinho, que passa pelos vagões.