Um dos momentos marcantes na passagem do grupo de Teatro Nô liderado por Wakebayashi Michiharu por São Paulo foi o workshop, ministrado especialmente para profissionais da área de dança e teatro, que foi realizado na tarde do dia da segunda apresentação no SESC Pinheiros. Foi uma pérola, um dos melhores workshops de Nô realizado no Brasil.
Wakebayashi Michiharu conduziu todo o workshop, mas teve a participação de todo o elenco.
Alguns trechos marcantes:
“O teatro Nô foi concebido há 650 anos e continua sendo apresentado ininterruptamente até hoje. Não há, provavelmente, no mundo, uma manifestação teatral tão antiga, mantida até hoje em sua configuração original. Em 2001, ele foi designado Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade, pela Unesco”.
“O Teatro Nô é uma arte da sugestão. Um pequeno gesto do ator convida a plateia a imaginar seu significado. O foco do Nô não é o mundo visível pelos olhos, mas sim o mundo imaginário que se amplia na mente do público”.
Sobre a máscara
“No teatro Kabuki, os atores recebem uma maquiagem, chamada Kumadori. No Nô, o ator principal usa uma máscara, onde fica concentrada a sua energia interior. A máscara pode parecer desprovida de fisionomia, mas é a energia interior do ator que faz a máscara se transformar e parecer ter vida. Essa energia vem de dentro do ator, e fica impregnada na face da máscara. Por isso, a máscara de Nô é chamada de “omote”, ou seja, a fachada”.
“A máscara de Nô é confeccionada um pouco menor do que o rosto do ator. Por isso, o queixo e as maçãs do rosto ficam de fora. Ela é produzida assim, para n]ao eliminar totalmente a identidade do ator”.
“O ângulo da máscara altera a fisionomia: para expressar alegria, inclina-se a máscara um pouco para cima. Para expressar tristeza, um pouco para baixo”.
Sobre o figurino.
“Todo figurino do teatro Nô é confeccionado em Kyoto, com a técnica Nishijin-ori. Dentre os mais valorizados está o kara-ori, com fundo vermelho e tecido com fios de ouro, que é usado por Shizuka, na peça Funa-Benkei”.
“O ator escolhe o figurino no teatro Nô. Neste caso, escolhemos este figurino, para expressar a feminilidade e a jovialidade da personagem”.
“Já o personagem Tomomori exige uma expressão de vigor, e o figurino adotado foi este, mais pesado, de cores profundas”.
“A indumentária do teatro Nô é considerada a mais valiosa dentre os figurinos do teatro clássico japonês. São chamados de obras de arte móveis. Um figurino chega a pesar 7 quilos. O ator de Nô dança carregando este peso, e com a visão prejudicada com a máscara. Daí a sua força interior ser convocada em potência máxima”.
As diferenças de expressão entre Nô e Kyoguen.
Workshop prático: “kamae” e “hakobi”.
Demonstração dos instrumentos musicais: ôtsuzumi (tamboril grande), taiko (tambor), kotsuzumi (tamboril pequeno), fue (flauta).
Veja a galeria de imagens do workshop, pelas lentes de Alexandre Nunis |SESC Pinheiros