A família Watanabe estava toda reunida, e mais tensa do que os dias normais. Não era para menos. Era a data de comemoração dos 30 anos do Sushi Kiyo, um dos redutos mais tradicionais da culinária japonesa mais autêntica em São Paulo. Comemorava-se também, os 50 anos de carreira do chef Kiyomi Watanabe, o patriarca deste templo da cozinha japonesa, que passa longe dos rodízios e dos festivais e preserva o seu lado autêntico.
Kiyomi Watanabe abriu seu restaurante na Liberdade, o Suehiro, juntamente com seu irmão, no início de da década de 1960, após tentar a sorte como produtores de pimenta-do-reino em Tomé-Açu, no Estado do Pará. A sociedade com o irmão durou até 1974, conforme nos ensina o editor de gastronomia da revista Veja em São Paulo, Arnaldo Lorençato, que fez uma ampla pesquisa sobre a história dos restaurantes japoneses em São Paulo. Era uma época em que o público brasileiro ainda desconhecia a culinária japonesa e a clientela era predominantemente de integrantes da comunidade nipo-brasileira.
Naquele ano, o chef Kiyomi vai integrar o balcão do Restaurante Hinodê, outro representante da época áurea do bairro da Liberdade e que ainda hoje, ocupa o mesmo casarão na Rua Tomás Gonzaga. 6 anos depois surgia o Restaurante Sushi Kiyo, que significou a independência de Kiyomi. O local escolhido já prenunciava a vontade de Kiyomi de se distanciar do público essencialmente nipônico, para passar a oferecer a autêntica culinária japonesa aos brasileiro. E foi assim que ergueu sua cozinha na rua Treze de Maio, um reduto das cantinas e pizzarias. E devido à proximidade dos teatros, atores como Paulo Autran e Beatriz Segall passaram a frequentar o seu balcão. Políticos como o então candidato à Presidência da República, Mário Covas, e seus seguidores de partido como José Serra também faziam do Sushi Kiyo, uma de suas preferências gastronômicas.
Nessa época, o chef Kiyomi costumava cantar para o público. “Era uma festa só”, resume a atriz Bruna Lombardi. E na noite da comemoração, lá estava ele, em plena forma, cantando de novo. A música escolhida foi “Kôjô no Tsuki”, o Luar sobre o Castelo em Ruínas”, um clássico do cancioneiro japonês.
Em 1996, uma nova mudança. O Sushi Kiyo passa a ocupar um novo casarão, onde está até hoje, na rua Treze de Maio. A confluência entre o Paraíso e os Jardins é estratégico para atender os empresários expatriados que vêm do Japão, até a clientela brasileira. Já em meados dos anos 2000, o filho Carlos Watanabe passa a comandar o balcão da nova unidade, ainda sob a supervisão e olhar atento do pai. Na companhia da mãe, dona Natiko, que recebe a clientela todos os dias com seu sorriso de mãezona, e da irmã Claudia que nos atende com toda a simpatia característica da família, o Sushi Kiyo é também o templo do Comfort Food japonês. Seus pratos, além de autênticos, evocam sabores que confortam a alma, muito provavelmente porque são cozinhados no seio de uma família que recebe os clientes como se fossem parte de sua própria.
E preparem-se. Para o dia 1 de Novembro, dia do Sushi, o chef Carlos promete repetir o seu Festival de Sushi de Edo. Trata-se de uma seleção de sushis do período medieval do Japão, quando o uso do peixe cru como topping ainda não era comum. O que é afinal, o Sushi de Edo? Aguardem matéria aqui em Jojoscope, mais próximo do evento.
Rua Tutóia, 223, Paraíso São Paulo-SP
Tel: (11)3887-9148
Serviço de manobrista gratuito
2a a 6a feira 11h30 às 14h00 e das 18h00 às 23h00
Sábado das 18h00 às 23h00
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