Kitakata: a cidade que amanhece com ramen

Assa-rá. É assim que os habitantes de Kitakata, uma pequena cidade de 37 mil habitantes na província de Fukushima chama o ato de comer rámen logo de manhã. Sim, as casas costumam abrir às 7 horas da manhã.

Kitakata, juntamente com Sapporo e Hakata, forma a tríade das capitais do ramen no Japão. Em termos proporcionais, tem a maior quantidade de casas de ramen por habitante. São 120 ramen-ya oficialmente cadastrados, o que dá aproximadamente, uma casa da ramen para cada 300 habitantes. Se aplicada a mesma proporção para São Paulo, por exemplo, deveríamos ter 42 mil casas de rámen na cidade !

Guia com a localização das principais casas de ramen na cidade.

Mas por que esta cidadezinha se tornou uma digamos, uma meca do ramen?

Na década de 1930, o cozinheiro e puxador de yatai (carroças de comida) Ban Kinsei começou a vender o China-soba, um ensopado de macarrão, que se tornou uma iguaria nos tempos de escassez de alimentos e muita pobreza na região. Surgiram seguidores da receita de Ban que ajudaram a difundir o prato. Alguns montaram seu negócio abrindo botecos, como o Makoto Shokudô e Ban-nai Shokudô, ainda em atividade na cidade de Kitakata. Logo, o macarrão se alastrou pela cidade, conquistando especialmente os trabalhadores braçais das fábricas da região, que na volta do serviço noturno, às primeiras horas da manhã, aproveitavam para forrar o estômago antes de retornarem às suas casas para descansar. Também os agricultores, após a primeira colheita do dia, acorriam às casas de ramen para uma refeição matinal. Hoje não há mais operários do turno da noite e comer ramen de manhã virou um folclore, praticado principalmente por turistas que chegam de todas as partes do Japão, à procura de uma imersão cultural.

Shoyu ramen do Makoto Shokudo Foto: Jo Takahashi

A cidade é também conhecida por seus “kura”, armazéns vernaculares usados como depósito de produtos, o que incorpora mais um ponto de interesse turístico. Além disso, Kitakata é conhecida também pela produção dos melhores saquês artesanais, como o Yauemon, que já é encontrado no mercado brasileiro. Uma das razões pela qual se produz ótimos saquês em Kitakata é a qualidade da água que brota das fontes límpidas das montanhas da região. Essa mesma água é responsável pelo leve caldo dos ramen e também pela consistência do macarrão, que em Kitakata tem o formato achatado e ondulado, que proporciona maior aderência do caldo.

No shio ramen (à base de sal) é possível ver a transparência do caldo. Foto: divulgação

Na década de 1980, a televisão descobriu este “oásis histórico” perdido no interior do Japão e Kitakata virou foco em programas de turismo e serviu de cenário para várias novelas, o que provocou um boom de turistas.  

Kitakata tem poucos hotéis. A maioria dos turistas fica em Minshuku (hostel rural) como este aqui, em frente ao arrozal. Foto: divulgação

Para dar conforto a estes novos visitantes, ávidos para ver este cenário bucólico e retrô, a secretaria de turismo de Kitakata investiu na promoção do rámen. Em 1987 a Prefeitura e a Câmara de Comércio e Indústria da cidade convocaram todos os restaurantes de ramen e produtores de insumos do perímetro urbano e criaram uma associação: o Kitakata Ramen Kai. A associação permanece ativa até hoje, e já criou na cidade o Museu do Ramen. Por iniciativa espontânea, surgiu também um Santuário do Rámen, para dar um respaldo religioso à vocação gastronômica da cidade e invocar proteção divina. Então, longa vida ao Rámen !!

Jo Takahashi viajou a convite da Japan Rice and Rice Industry Export Promotion Association, em projeto realizado pela SPAZIO IDEA Co.,Ltd.e produção do sake samurai Alexandre Iida. 
Artigo originalmente desenvolvido para a Revista Hashitag. 

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