Tora: o ano do Tigre

Pelo calendário lunar, o Ano Novo chinês começa no dia 1 de fevereiro. É o primeiro dia em que a Lua está na fase nova. 2022 é o Ano do Tigre sob influência do elemento Água, que corresponde ao ano 4720 do calendário chinês e cujo término acontecerá em 21 de janeiro de 2023.

O tigre é o terceiro animal do zodíaco chinês. Os 12 signos do horóscopo chinês são utilizados para representar os anos. 2021 encerrou um ciclo representado pelo boi, e em 2022 um novo ciclo se inicia, com o tigre.

O signo de tigre representa força e coragem. Segundo a astrologia chinesa, será um ano de dinamismo, propício para novos projetos e grandes acontecimentos mas também de muita luta.

O Japão adota o calendário ocidental, mas comemora com o calendário chinês. No Japão o Ano do Tigre é chamado de Tora-doshi 寅年. O ideograma Tora 寅 é usado para designar o Tigre do horóscopo, ou seja um ente imaginário. O animal tigre é escrito com outro ideograma 虎 e tem a mesma leitura. Não é muito comum se escrever 虎年, sendo o mais usual 寅年. Mas mesmo assim, recebemos um calendário escrito no modo não usual.

Mas afinal, existiam tigres no Japão? Não. Não existe nada que comprove que tigres habitavam o arquipélago japonês. Os antigos desenhos dos tigres no Japão foram feitos baseados em relatos de monges, chineses ou mesmo japoneses que retornavam da China depois de anos de estudo de budismo no continente. Por isso, os primeiros desenhos de tigre feitos no Japão mais parecem gatos enormes.

Desenho de Nagasawa Rosetsu. Este tigre é muito mangá. Foi pintado em 1786, com tinta a carvão e decora um painel corrediço de seis folhas. A feição caricata do tigre que mais parece um gato dá um toque humorístico à obra. A cauda do tigre é exageradamente comprida. Nagasawa teria dito que se inspirou em um gato tentando pegar um peixe no lago. Faz sentido, não é? 
Visão geral da pintura. São seis painéis corrediços, medindo 180cm x 87cm (as duas à direita), e 183.5cm x 115.5cm (as demais quatro). O painel está instalado no templo Muryô-ji, em Odawara.
Obra do monge e pintor Sesson Shukei (provavelmente 1492 – 1589), do perìodo Muromachi, especializado na pintura Suiboku-ga, com tinta a carvão. O tigre, que mais parece um gato assustado, tem patas arredondadas e não parece feroz.
Desenhos de tigre de Nagasawa Rôsetsu (1754-1799), à esquerda e de  Itō Jakuchū (1716-1800), à direita. Representações de tigres imaginários. Nenhum dos dois artistas viram um tigre de verdade em vida. 

E na China mesmo, existiam tigres? Sim. Não só ao longo do Rio Amarelo mas tambérm no nordeste da China habitavam os tigres siberianos. Já ao sul, o tigre de Bengala e o imponente tigre da Indochina mas hoje estão praticamente extintos na região. Em uma pesquisa de campo realizada em 1990, foram encontradas pegadas de tigre em 11 localidades incluindo Hunan, Guangdong, Gangxi, Fujian, em áreas de preservação, estimando-se que na época, cerca de 20 a 30 animais tenham sobrevivido. Já os tigres siberianos parecem estar se procriando com mais intensidade no nordeste do país, perto do limite com a Coréia do Norte e da Rússia.

Cartão digital criado por Mika Takahashi para a nossa produtora, Dô Cultural. Dando um zoom no desenho original de Itô Jakuchu pode-se perceber a riqueza de detalhes do desenho original. Reparem nas milhares de pinceladas para retratar os pelos do tigre.
Obra de Itö Jakuchü mede129.7×71.0㎝, e foi pintado em um rolo de tecido. Trata-se de um tigre imaginário. Itô teria dito a seus discípulos que como nunca viu um tigre de verdade, baseou-se em desenhos chineses.

 

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