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Dois filmes de Oshima Nagisa serão relançados em versão restaurada em 4K nos cinemas do Japão: “Merry Christmas, Mr. Lawrence” (no Brasil recebeu o título de “Furyo, Em Nome da Honra“) e “Ai no Koriida” (no Brasil, “O Império dos Sentidos“). O primeiro será exibido a partir do dia 16 de abril e o segundo, a partir de 30 de abril, começando por Tokyo e percorrendo por várias capitais do país.
São duas das mais representativas obras de Oshima, considerado um dos mais revolucionários cineastas do Japão, que levantou a bandeira da Nouvelle Vague japonesa. “Merry Christmas, Mr Lawrence” (1983) foi seu maior sucesso de bilheteria, indicado para a Palma de Ouro em Cannes em 1983. No elenco, músicos como David Bowie, Ryuichi Sakamoto e o roqueiro Yuya Uchida, além de “Beat” Takeshi (o codinome como ator do diretor Takeshi Kitano), que na época era mais conhecido como comediante de televisão. É um filme sobre a guerra, sem nenhuma cena de combate. Oshima encomendou a trilha sonora para Sakamoto e este foi o seu primeiro trabalho para o cinema. A partir de “Merry Christmas”, Sakamoto se notabilizou também como compositor de trilhas para o cinema. No filme, Sakamoto interpreta o capitão Yonoi, pelo qual o prisioneiro inglês Major Jack ‘Strafer’ Celliers, interpretado por David Bowie, sente uma estranha atração.
Já “O Império dos Sentidos” é o filme mais polêmico de Oshima. Um drama erótico, baseado em um fato real que ficou conhecido como o Crime de Abe Sada, ocorrido em 1936 e que escandalizou o Japão pela brutalidade com que termina um relacionamento de absoluta entrega ao sexo, entre uma prostituta e o chefe de uma propriedade onde ela é contratada como empregada. O filme ficou famoso pelas cenas de sexo real, levantando a polêmica se a obra seria um filme pornô ou um filme de arte. No Japão as cenas de sexo explícito sofreram censura e provavelmente, esta será a primeira vez que o filme será exibido em sua integridade. Oshima, quando esteve no Brasil, em 1984 ficou particularmente emocionado quando soube que “O Império dos Sentidos” foi um marco na queda da censura de filmes eróticos. O filme foi exibido sem cortes, ao ar livre, no vão do Museu de Arte de São Paulo, na avenida Paulista, numa demonstração de que o Brasil acolheu a obra como um filme de arte, seguindo o exemplo da França.
Naruse Kei, um designer especializado em cartazes para o cinema, recriou a arte para os dois filmes. No cartaz de “Merry Christmas”, Naruse introduziu um fundo lilás com a imagem frontal de Sakamoto e Bowie. Uma espada com várias flores tropicais, sugerindo a ambientação na ilha no Pacífico deu um toque absolutamente novo ao cartaz. Já no cartaz de “Império dos Sentidos”, o designer trabalha com o vermelho do sangue, que é também a cor da paixão, e mostra o casal em pleno ato sexual, em meio a um fundo em chama.
Oshima Nagisa 大島 渚 (Kyoto, 1932-2013)
Um dos líderes da Nouvelle Vague japonesa, Oshima é considerado ainda hoje um dos mais inovadores cineastas do Japão. Perde o pai ainda criança. No colégio divide o tempo entre os movimentos estudantis e o teatro. Cursa Direito na Universidade de Kyoto, engajando-se na militância estudantil. Em 1954 presta concurso na produtora Shochiku, ingressando como assistente de direção. Trabalha com diretores como Yoshitaro Nomura, Oba Hideo e Kobayashi Masaki. Com outros jovens cineastas da Shochiku discute temas que se tornariam a essência da nouvelle vague japonesa.
Em 1959 começa a dirigir seus próprios filmes. Seu primeiro grande sucesso foi “Seishun Zankoku Monogatari” (Contos Cruéis da Juventude), de 1960, que retrata o relacionamento sexual de um casal de adolescentes em meio a protestos políticos. Nesse ano casa-se com a atriz Koyama Akiko e faz uma película de forte conteúdo político : “Nihon no Yoru to Kiri” (Noite e Névoa do Japão), que se tornou a principal razão de seu desligamento da produtora Shochiku. Em 1965 funda a sua própria produtora, a Sozosha. Começa a ser reconhecido internacionalmente com “Shônen” (O Garoto Toshio), 1969, e principalmente “Gishiki” (A Cerimônia), 1971, mas a aclamação da crítica veio com “Ai no Koriida” (O Império dos Sentidos), 1976, uma produção franco-nipônica que analisa a obsessão sexual e lhe valeu um processo no Japão, por “promover a pornografia”, encerrado somente em 1982, quando seu filme finalmente considerado uma obra de arte no Japão. Em 1978 ganha o prêmio de melhor diretor do Festival Internacional de Cannes com “Ai no Bôrei” (Império da Paixão). “Senjô no Meri Kurisumasu” (Furyo, em Nome da Honra) é certamente seu filme de maior bilheteria, lançado em 1983. “Max, Mon Amour“, de 1986, foi uma produção franco-japonesa, com roteiro escrito por Jean-Claude Carrière, colaborador frequente de Luis Buñuel, com Charlotte Rampling.
Em 1995, Oshima escreve e dirige o documentário “100 Years of Japanese Cinema” (日本映画の100年)para a British Film Institute. Trata-se de um documentário de cunho pessoal, muitas vezes narrado em primeira pessoa, sobre a história do cinema japonês. Você pode assistir este documentário, na íntegra, clicando na imagem abaixo.
Em 1996 Oshima sofreu um derrame, durante as filmagens de Taboo | Gohatto (Tabu), com Takeshi Kitano, que também participou de “Merry Christimas…”. Somente três anos depois, ele conseguiu concluir o filme, já bastante enfermo. A trilha sonora coube novamente a Ryuichi Sakamoto. Apesar de Oshima ter mais um projeto, um filme biográfico sobre o ator Sesshu Hayakawa, o primeiro ator japonês a fazer sucesso em Holywood – o filme iria se chamar “Holywood Zen” e seria rodado inteiramente em Los Angeles – o projeto não se concretizou devido à condição de saúde de Oshima, que veio a falecer em 2013.
A pesquisadora de cinema Lúcia Nagib publicou o livro “Nascido das Cinzas – Autor e Sujeito nos filmes de Oshima” pela Edusp, resultado de sua tese de doutorado na Escola de Comunicações e Artes da USP.
MERRY CHRISTMAS, MR. LAWRENCE – Edição Digitalizada em 4K
Estreia 16 de abril (sexta-feira), Human Trust Cinema Yuraku-cho, Shinjuku Musashino-Kan (Tokyo) e circuito
Elenco: David Bowie, Tom Conti, Ryuichi Sakamoto, Beat Takeshi, Jack Tompson, Johnny Ohkura, Yuya Uchida
Direção e roteiro: Nagisa Oshima
Roteiro: Paul Meyersburg
Original: Sir Laurens van der Post – The Seed and the Sower (1963) e The Night of the New Moon (1970)
Produção: Jeremy Thomas
Trilha sonora: Ryuichi Sakamoto
Distribuição: Unpluged
1983 | Japão, Inglaterra, Nova Zelandia | 123 min | Vista Vision | Stereo
Oshima Production
Mais informações sobre a itinerância: oshima2021
AI NO KORIIDA – Edição Digitalizada em 4K
Estreia 30 de abril (sexta-feira) Human Trust Cinema Yuraku-cho, Shinjuku Musashino-Kan (Tokyo) e circuito
Elenco: Matsuda Eiko, Fuji Tatsuya, Nakajima Aoi, Matsui Yasuko, Tonoyama Taiji
Direção e roteiro: Nagisa Oshima
Produção: Anatole Dauman
Produtor executivo: Koji Wakamatsu
Fotografia: Hideo Ito
Música: Minoru Miki
Assistente de direção: Yoichi Sai
Distribuição: Unpluged
1976| Japão, França | 108 min | Mono
Oshima Production
Mais informações sobre a itinerância: oshima2021