Corações Sujos, O Filme

Filme sobre imigrantes japoneses abre o Festival de Paulínia 2011

O evento acontece no interior de São Paulo de 7 a 14 de julho.


Na noite de abertura será exibido o longa “Corações Sujos”, de Vicente Amorim. Em seu novo filme, o cineasta usa novamente a 2ª Guerra Mundial como cenário, da mesma forma como aconteceu em “Um Homem Bom”, seu trabalho anterior.

“Corações Sujos” conta a história real de imigrantes japoneses que moravam no Brasil na década de 1940. Eles não acreditavam que seu país havia sido derrotado no combate e caçavam qualquer pessoa que dissesse o contrário.

Além do elenco nipônico, Eduardo Moscovis interpreta um subdelegado que se vê no meio de uma comunidade em crise. “Corações Sujos”, adaptação do romance homônimo de Fernando Morais (que também escreveu “Olga”), está previsto para estrear comercialmente em 28 de outubro.


Trailler oficial

Making of

A chegada dos atores japoneses

A revelação da estrela mirim, Celine Miyuki

Veja a locação das filmagens.

O primeiro dia das filmagens, segundo o diretor Vicente Amorim.

A cena do incêndio

A morte de Sasaki

Confira um trecho do roteiro de “Corações Sujos”, assinado por David França Mendes e baseado em livro de mesmo nome de Fernando Morais.

 

“Corações Sujos” vira thriller de amor

Filme será como abrir uma caixa de Pandora para os japoneses, diz ator

A cena narra o primeiro assassinato cometido por Takahashi, o protagonista do filme, interpretado pelo ator japAdicionar uma imagemonês Tsuyoshi Ihara. Ele é um fotógrafo que se envolve numa organização de imigrantes que pregavam a vitória japonesa na Segunda Guerra Mundial –a história se passa em 1946.

 


 

A vítima, Aoki (Issamu Yazaki), havia servido como intérprete para a polícia no “episódio da bandeira”, no qual japoneses são acusados de tentar matar um policial que havia limpado a bota na bandeira japonesa.

 

 

 

Ao final da cena, Miyuki (Takako Tokiwa), a esposa de Takahashi, chega e testemunha o assassinato. Os diálogos estão entre colchetes por serem em japonês.

 

 

INTERIOR CASA DE AOKI – NOITE

 

 

 

Takahashi diante de Aoki. Takahashi oferece a katana (espada japonesa) para Aoki. Um momento de insuportável tensão e silêncio.

 

 

Continuamos circulando em torno dos dois… para um lado, para o outro…

 

 

 

Takahashi quebra o silêncio.

 

 

 

TAKAHASHI: [Você sabe muito bem. Se o Japão perde, não sobra um japonês no mundo. Todos se matam. Japonês nenhum ia querer viver nessa vergonha.]

 

 

 

Aoki nada diz.

 

 

 

TAKAHASHI CONTINUA: [Nenhum.]

 

 

 

Lentamente, solenemente, Takahashi vai recolhendo a espada que estava oferecida a Aoki, e invertendo sua posição.

 

 

 

TAKAHASHI CONTINUA: [Seu coração está sujo.]

 

 

 

AOKI: [O Japão perdeu a Guerra. Você sabe a verdade. Não aceita, mas sabe.]

 

 

 

A espada agora está nas mãos de Takahashi, em posição de ataque. Aoki não se move. Em silêncio, todo tenso e contraído, Takahashi se lança, com a espada em riste, sobre Aoki. Este não se defende. Recebe o golpe bruto da espada no pescoço. O golpe não é preciso. Takahashi não é um matador. Vê que Aoki sofre. Aplica um segundo golpe, mas Aoki tomba bem no instante do golpe, e Takahashi erra miseravelmente, acertando em vez do pescoço as costas de Aoki. Abre-se uma ferida longa e sangrenta. Sangue por toda parte. Aoki, caído, ainda se move, se contorce em agonia. O rosto lívido ainda fita Takahashi como numa acusação. Takahashi mal tem forças, mas desfere um terceiro e último golpe.

 

 

 

Apesar da violência das ações, tudo é espantosamente silencioso. Os ruídos são mecânicos. A espada contra a carne. O corpo contra o chão. Ruído de ossos se quebrando, de carne cortada, do esforço de um homem e da dor do outro. Aoki não grita. Geme, apenas, quando recebe os golpes. Gemidos breves, mas muito profundos, densos, graves. Takahashi de joelhos diante do corpo de Aoki. A poça de sangue. Em silêncio, diante do corpo, que apenas agora se aquieta de vez. A câmera para. A espada em primeiro plano.

 

 

 

Escutamos passos miúdos. Ele não ousa olhar para trás. Atrás de Takahashi, Miyuki, sua esposa, com a trouxa de comida que havia prometido a Aoki na mão. Aterrorizada. As mãos apertando a trouxa como se manter firme aquela trouxa dependesse sua vida inteira. Pálida de terror, ela se ajoelha bem devagar atrás do marido. Pousa a panela no chão com extremo cuidado, pois suas mãos perderam a firmeza. Takahashi afinal olha para trás. E vê, a poucos metros dele, a mulher ajoelhada com a trouxa de comida diante de si. Lívida. Mais frágil do que nunca.

 

 

 

Nenhum dos dois ousa se mover, nenhum dos dois ousa falar, nenhum dos dois ousa se aproximar. Paralisados. Até o rosto de Miyuki está completamente paralisado. Uma máscara. Máscara pela qual escorre repentinamente uma lágrima. Depois mais uma lágrima. E outra, e mais outra. Até que o rosto de Miyuki está banhado em lágrimas absolutamente silenciosas.

 

 

 

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