Olhar InComum: JAPÃO REVISITADO

Uma exposição sobre um Japão revisitado por 21 artistas que possuem laço sanguíneo com o Japão e moram no Brasil, dentro da compreensão da arte sob uma perspectiva ampla que engloba várias linguagens — pintura, gravura, design, fotografia, vídeo, escultura, cerâmica, poesia, caligrafia instalação, história em quadrinhos, ilustração, música e performance. Uma viagem ao passado, com um olhar contemporâneo, para uma época em que não havia uma arte mais nobre e outra popular. Uma escrita caligráfica era tão arte quanto uma pintura. Ou a cerimônia de chá, entendida no mesmo universo de uma arte mais universal.

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“A exposição Olhar InComun: Japão revisitado traz a multiplicidade de linguagens evocando a compreensão da arte no Japão tradicional, por meio de olhares de artistas “nipo-brasileiros” que revisitam o Japão, composto por descendentes japoneses, maioria da terceira geração, e japoneses que imigraram ao Brasil nas últimas décadas.

Esse termo “nipo-brasileiro” que não pode ser compreendido de maneira superficial, é bastante complexo e diversificado: engloba os artistas japoneses imigrantes e brasileiros descendentes de japoneses que ora negam a origem japonesa, ora criam uma relação de paixão com o Japão tradicional ou contemporâneo ou ainda, recriam um outro Japão dentro do Brasil.

 

Alice Shintani - Quimera, 2007. Instalação. Resina acrílica e pigmentos sobre paredes e piso. Intervenção realizada na Galeria Virgilio, São Paulo
Alice Shintani – Quimera, 2007. Instalação. Resina acrílica e pigmentos sobre paredes e piso. Intervenção realizada na Galeria Virgilio, São Paulo

As obras refletem esses múltiplos desdobramentos. Para alguns, trata-se de um Japão real, da vivência e dos familiares, ou ainda, da memória herdada e, para outros, um Japão ideal ou fantástico que podem passar por processos de recriação e ressignificação. As referências são de tempos diversos: do Japão tradicional ou da atualidade, mas todos eles têm em comum a visão contemporânea da arte e o território brasileiro como cenário cotidiano da vida.

As temáticas das obras produzidas são variadas, mas estabelecem certos diálogos: a influência de um Japão tradicional se mostra não apenas nos aspectos formais, mas também na técnica utilizada: a técnica da caligrafia japonesa em Futoshi Yoshizawa, do mokuhanga (xilogravura japonesa) em Fernando Saiki, do urushi (charão) em Takako  Nakayama, da cerimônia do chá em Erika Kobayashi e da cerâmica em Marcelo Tokai; a importância da relação com a natureza em Erica Kaminishi, Cesar Fujimoto, James Kudo e Marta Matushita; a referência a um utensílio de corte, de alta qualidade como os tradicionais katanás japoneses em Yasuo Taniguchi; a utilização do colorido pastel e delicado nas obras de Alice Shintani; a valorização da linguagem verbal como elemento basilar que pode ser visualizada em Marília Kubota, Futoshi Yoshizawa, Erica Kaminishi e Mai Fujimoto; a estética do mínimo essencial avizinhada à arte zen em Erica Kaminishi, Yukie Hori, Marília Kubota e Julia Ishida; de referências aos elementos tradicionais japoneses como o hanafuda (jogo de cartas), o bakemono (fantasmas) ou a gueixa, em Alice Shintani e Sandra Hiromoto;  à importância da sombra, da intermediação presentes na obra de Alline Nakamura; à noção do vazio que é também espaço de disponibilidade e geração do novo nas fotografias de Tatewaki Nio; ao estabelecimento da lógica relacional tão cara na cultura japonesa, nas obras de Yukie Hori, Alice Shintani, Erica Kaminishi, Erika Kobayashi, Futoshi Yoshizawa, Mai Fujimoto e Tatewaki Nio; a questão da transitoriedade presente na cultura japonesa, bem representada pela sua flor nacional, a cerejeira, é abordada por James Kudo, Yukie Hori, Marta Matsushita, Cesar Fujimoto e Erika Kobayashi. O Japão pop, internacionalizado por animes, mangás, games e música J-pop, e também por artistas que se encontram presentes no universo artístico mundial como Takashi Murakami, Yoshitomo Nara, Nobuyoshi Araki, é também referência para artistas como Atsuo Nakagawa, Erica Mizutani, Fernanda Takai, James Kudo e Fernando Saiki. E todos os artistas convidados, de certo modo, recriam um Japão que não existe lá, um Japão revisitado só possível de emergir no Brasil.

Aline Nakamura - Sem Título, 2007
Aline Nakamura – Sem Título, 2007

Olhar InComum: Japão revisitado é, portanto, um diálogo entre artistas contemporâneos que em comum afloram um possível “novo japonismo”— mas de uma complexidade e multiplicidade muito maior do que aquela visualidade japonesa que influenciou os artistas do século XIX como Claude Monet, Vincent Van Gogh, Édouard Manet, Paul Gauguin, Edgar Degas — e, testemunhando que o Japão e a arte japonesa exercem ainda grande interesse não só aos artistas “nipo-brasileiros” mas aos artistas e público em geral, a ser apreciado por múltiplos sentidos”.

 

Um pouco de história

“A chamada primeira geração de artistas japoneses formou o Grupo Seibi (1935-1970) e o Grupo Guanabara (1950-1960), ambos em São Paulo, embora este último tenha participação não apenas de imigrantes japoneses, mas também de italianos.

Tais grupos tiveram forte atuação no cenário artístico brasileiro, sendo os artistas mais representativos, Manabu Mabe, Tikashi Fukushima e Tomie Ohtake, que completou 100 anos em novembro de 2013. A segunda geração de artistas japoneses, isto é, aqueles que chegaram ao Brasil durante o pósguerra, tiveram atividades mais independentes, como por exemplo, Yutaka Toyota e Kazuo Wakabayashi.

Os artistas das gerações seguintes, brasileiros descendentes de japoneses, na maioria nisseis (filhos de japoneses), sanseis (netos de japoneses) até yonseis (bisnetos de japoneses) já não possuem o laço de identidade cultural dos anteriores, e compõem uma multiplicidade de perfis que se inserem, antes de tudo, no contexto da arte contemporânea.

O Japão aparece, assim, como referência na criação poética para esses artistas, cuja relação pode ser de aproximação, de paixão ou mesmo de rejeição,  de modo fragmentário ou fantástico. Mostrar uma coletiva que reúne artistas desse terceiro grupo (já que exposições da primeira e segunda gerações são mais comuns), é algo original e importante para se ter uma visão pluralizada da produção emergente e contemporânea da arte brasileira. A exposição pretende mostrar também as obras dos artistas japoneses que imigraram ao Brasil nas últimas décadas, revelando um outro perfil: trazem a referência de um Japão contemporâneo vivenciado, na maioria das vezes de um modo sutil ou ainda, através da técnica adquirida na sua terra natal.

Tatewaki Nio - Escultura do Inconsciente
Tatewaki Nio – Escultura do Inconsciente

Trata-se, portanto, de exibir de maneira inédita as múltiplas escolhas poético-formais desses artistas contemporâneos que constroem um espaço interessante de confronto, troca e diálogo, possível apenas num país como o Brasil, que possui a maior colônia japonesa do mundo”.

(textos extraídos do catálogo)

 

Artistas participantes (por ordem alfabética. Clique nos links para matérias sobre eles)

Alice Shintani | Alline Nakamura |Atsuo Nakagawa |Cesar Fujimoto |Erica Kaminishi | Erica Mizutani  |Erika Kobayashi |Fernanda Takai |Fernando Saiki |Futoshi Yoshizawa |James Kudo |Julia Ishida |Mai Fujimoto |Marcelo Tokai  |Marília Kubota  |Marta Matushita |

Sandra Hiromoto  |Takako Nakayama  |Tatewaki Nio |Yasushi Taniguchi |Yukie Hori

 

MICHIKO OKANO  •  CURADORA

11009209_1088401287855457_3565233482467560465_nGraduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, mestre e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. No mestrado pesquisou o ideograma e a sua metáfora cultural no Japão e no doutorado, o entre-espaço presente na cultura japonesa denominado Ma 間. Foi professora de língua japonesa na Aliança Cultural Brasil Japão de 1986 a 1999 e assessora cultural senior da Fundação Japão de 1995 a 2009, quando coordenou projetos culturais relacionados ao Japão tanto no campo artístico-cultural como na área acadêmica. Lecionou cultura japonesa nos cursos de extensão no Centro de Estudos Japoneses da Universidade de São Paulo e Casa do Saber, e de história japonesa na Faculdade Messiânica. É professora de História da Arte da Ásia na Universidade Federal São Paulo, Campus Guarulhos, desde 2011.

 

Exposição Olhar InComum: Japão Revistado

De 16 de março a 26 de junho

Museu Oscar Niemeyer – Sala 01 Tarsila do Amaral

  1. Mal. Hermes, 999 – Centro Cívico, Curitiba – PR, 80530-230
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