Japão declara fim do estado de emergência

Discurso do Primeiro Ministro ABE Shinzo na entrevista coletiva
25 de maio de 2020

PM Shinzo Abe declares end to Japan's coronavirus emergency ...
Kim Kyung-Hoon/Getty Images

Primeiramente, nesta ocasião, reitero minha homenagem a cada um dos que faleceram
devido à doença infecciosa e externo minha solidariedade a todos os infectados.
Hoje, revogaremos a declaração do estado de emergência em todo o país. Nesta altura, o
número de casos novos no país registra menos de 50 pessoas, assim como o número de
internados são menos de dois mil pacientes, número que chegou a registrar cerca de dez
mil em determinado momento. Consideramos noutro dia que foram preenchidos os critérios
para a revogação no país, critérios estes dos mais exigentes no mundo. Definiremos a
revogação na reunião da Central de Medidas do Governo a ser realizada logo em seguida
após obter o consentimento do Comitê Conselheiro.
A partir do mês de março, houve o avanço da infecção explosiva nos Estados Unidos.
Atualmente, no mundo, ainda são registrados mais de 100 mil novos casos diariamente e
alguns países adotaram medidas coercitivas como lockdown (bloqueio total de cidades) por
mais de dois meses.
No Japão, mesmo com a declaração do estado de emergência, não podemos implementar
restrições coercitivas de saída com multa. Ainda assim, conseguimos conter a pandemia
quase por completo em apenas um mês e meio com medidas próprias do Japão. Acredito
que pudemos mostrar a força do modelo do Japão. Agradeço profundamente a cooperação
e a paciência até agora de todos os cidadãos.
Expresso meu respeito a todos os médicos, enfermeiros, assistentes, equipe dos hospitais
clínicos e todos dos centros de saúde que estão lidando com grande responsabilidade agora
neste momento sob um ambiente crítico e com risco de contaminação. O Secretário Geral
da ONU, Gutierres, avaliou na sexta-feira passada que as atuações do Japão contra a
doença infecciosa são exemplos de excelência para o mundo. O Japão está conseguindo
conter significativamente o número de infectados e de óbitos por população quando
comparado com outros países do G7. Nossas atuações até agora têm dado frutos e
chamado a atenção e criando expectativas no mundo. Hoje, após a revogação da
declaração do estado de emergência, daremos um novo passo com vigor, juntamente com
os cidadãos, rumo à próxima etapa. Nosso objetivo é criar um novo cotidiano. Vamos mudar
nossa mente daqui para frente.
As rigorosas restrições das atividades socioeconômicas não poderão sustentar nosso
trabalho nem a vida em si. O que se espera agora para proteger a vida é trazer de volta as
atividades socioeconômicas do dia a dia com novos métodos. Os eventos culturais e de arte
como shows e teatros enriquecem nosso coração e nos dão alento. Os atletas de alto
rendimento nos dão sonho e nos emocionam. Imagino que muitos estejam ansiosos para
poder viajar de novo a vários lugares do Japão.
Hoje, apresentamos também os planos detalhados para trazer de volta aos poucos o
cotidiano e gradativamente no próximo mês e no seguinte, prestando atenção à situação da
infecção. Os jogos profissionais de beisebol serão realizados sem torcedores no próximo
mês e os torcedores serão acomodados de forma gradual. Os shows e os vários tipos de
eventos começarão a ser realizados em escala de cerca de 100 pessoas e aumentarão
subsequentemente o número de espectadores para mil, cinco mil, e até a 50% da
capacidade de acomodação das instituições. Reabriremos todas as atividades sob a
condição de tomar medidas preventivas para a infecção. É importante ter noção de como
podemos realizar as atividades, controlando o risco da contaminação, ao invés de pensar
em não realizá-las devido ao risco.
Em relação às escolas, o Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência, e Tecnologia
havia apresentado o guia sobre a reabertura que inclui o escalonamento de turmas. As linhas
gerais das medidas preventivas de contaminação para mais de 100 setores são as diretrizes
para reabrir as atividades empresariais e criar o novo cotidiano. Pedimos que os
empresários reabram suas atividades com base nisso. O governo apoiará a reabertura dos
restaurantes e bares, assim como as micro, pequenas e médias empresas, com subsídio de
até 1,5 milhões de ienes que proporciona 100% no auxílio a ações de prevenção da infecção
tomadas de acordo com as diretrizes.
Apesar de ações com plena observância das linhas gerais, não conseguimos zerar o risco
de infecção. Temos de realizar vários ajustes. Precisamos de muito tempo para trazer de
volta o cotidiano pleno enquanto contemos a infecção. Entendo o quão difícil é pedir por
mais tempo em meio à dificuldade severa que os empresários estão enfrentando neste exato
momento.
Ainda assim, temos esperança e estamos vislumbrando a saída. Sob nossa determinação
de superar esta árdua conjuntura rumo à saída e proteger definitivamente os
empreendimentos e o emprego, definiremos o segundo orçamento complementar depois de
amanhã. O valor ultrapassa 200 trilhões de ienes junto com o valor do orçamento
complementar já aprovado. Com tal medida, sem precedentes no mundo, equivalente a 40%
do PIB, protegeremos a economia do Japão desta crise única em 100 anos.
Faremos apoio robusto para captação de mais de 130 trilhões de ienes em recursos.
Ofereceremos recursos como empréstimo subordinado e investimento por meio do Banco
do Desenvolvimento do Japão (DBJ) e fundos públicos para grandes empresas que
conduzem a economia inteira, empresas pequenas e médias que sustentam a economia
regional e que têm sido o motor do crescimento com suas tecnologias únicas e próprias,
independentemente do tamanho das empresas. Temos promovido também o financiamento
sem juros e com moratória de até cinco anos pelos bancos regionais, Shinkin Bank e Credit
Union. Faremos nosso melhor para poder providenciar o apoio o quanto antes possível aos
que necessitam.
A respeito do apoio de captação de recursos destinado a empresas, o Banco Central
determinou na semana passada o novo plano de auxílio de 75 trilhões de ienes. Ainda,
anunciamos em nota conjunta inédita onde o governo e o Banco Central se unem e se
comprometem a tomar todas as medidas possíveis a fim de conter a situação. Injetaremos
uma quantidade significativa de recursos e apoiaremos plenamente a captação de recursos
das empresas com todo o país unido. Elevaremos de forma excepcional o valor do auxílio
referente às despesas com pessoal para até 15 mil ienes, nível mais elevado no mundo.
Para reduzir despesas com aluguel de lojas, criaremos um novo auxílio com valor de até
seis milhões de ienes. Em relação à distribuição de até dois milhões de ienes para
manutenção que pode ser usado com qualquer gasto, ampliaremos para empresas de joint
venture que iniciaram empreendimento neste ano.
Para possibilitar auxílio cuidadoso aos empresários que dependem das situações regionais,
aumentaremos 200 trilhões de ienes do valor do subsídio de revitalização regional e do
subsídio extraordinário. Revigoraremos a economia do Japão com três pilares inéditos e
robustos rumo ao novo cotidiano em tempos de coronavírus. A revitalização da economia
será a prioridade máxima em nosso governo.
Entretanto, devemos enfatizar um ponto. O fato de que o vírus continuará a existir em torno
de nós mesmo após a revogação do estado de emergência. O aspecto mais apavorante é
o fato de que a infecção avança logo após baixar a guarda contra o vírus e parar com a
prevenção. É um desafio extremamente difícil recuperar as atividades socioeconômicas
enquanto se previne vigorosamente a infecção onde sempre há o risco da próxima onda.
Mesmo assim, temos contado com a cooperação de todos os cidadãos em modificar
comportamentos necessários enquanto sentem pavor de forma correta do vírus. Lavam as
mãos e agora a grande maioria usa máscara ao sair de casa. Nos caixas das lojas, têm
mantido distância entre as pessoas nas filas e evitado as três condições de espaços
fechados, aglomerações e contato próximo. Com a continuidade deste novo estilo de vida,
acredito que conseguiremos evitar o pior. Manifesto minha gratidão à cooperação de evitar
frequentar restaurantes de bairros mais movimentados à noite onde há atendimento aos
clientes, bares, clubes noturnos, além de casas de shows, locais nos quais acontecem de
forma densa as três condições e foi confirmada a infecção coletiva. Para tais instituições,
formularemos linhas gerais por volta dos meados do próximo mês em cooperação com
especialistas e apoiaremos para poder tomar medidas efetivas de prevenção da infecção
com auxílio de até dois milhões de ienes. Até esta ocasião, pedimos que continuem se
protegendo.
Mesmo com contínuas ações, há o risco do aumento no número de infectados novamente
e, na pior das hipóteses, a possibilidade da segunda declaração do estado de emergência.
Porém, a ideia é evitar ao máximo possível medidas que solicitem o evite de saída e
restrinjam as atividades socioeconômicas. Se conseguirmos diminuir significativamente o
risco de contaminação nas cidades, podemos evitá-las. Para isso, é necessário reforçar
ainda mais as medidas contra a infecção coletiva para detectar os infectados o mais rápido
possível. A ferramenta chave é a introdução do aplicativo para saber o contato próximo. O
aplicativo serve para a detecção rápida através de aviso automático aos que estavam nas
proximidades em algum momento de infectados confirmados, ou seja, aos que
possivelmente tiveram contato próximo, por meio da função de telecomunicação do
smartphone.
Conforme a simulação divulgada pela Universidade de Oxford no mês passado, espera-se
que haverá um grande efeito que possibilite evitar lockdown (bloqueio total de cidades) se
cerca de 60% da população utilizar o aplicativo e conseguir detectar rapidamente aqueles
que tiveram contato próximo. No Japão, introduziremos o aplicativo que não captura
informações individuais e pode ser usado em segurança por volta de meados do próximo
mês. Pedimos que o maior número de pessoas o utilizem.
Ao mesmo tempo, continuaremos a fortalecer o sistema de testagem para que seja realizado
assim que o médico considerar necessário. Já teve início a testagem para anticorpos e
impulsionaremos o avanço da função do teste PCR também com o uso de equipamentos de
testagem em universidades, além de apoiar as instituições privadas. Também reforçaremos
o sistema para coletar amostras. Além de atendimento exclusivo hospitalar aos visitantes, já
estabelecemos em torno de 100 centros de PCR no país em cooperação com as
associações dos médicos e ainda aumentaremos mais.
Em parceria com os governos locais, adicionaremos mais de dois trilhões do orçamento para
o aprimoramento do sistema de atendimento médico. Indicaremos as instituições que se
dedicam ao tratamento médico do novo coronavírus em todo o país e asseguraremos
firmemente os leitos exclusivos diante do risco da próxima onda. Expresso meu profundo
agradecimento a todos os profissionais de saúde, funcionários de equipe de hospitais e de
instituições de cuidados que estão na linha de frente no combate ao vírus e repassaremos
o valor de até 200 mil ienes a todos. Em relação aos equipamentos médicos de proteção
individual como máscaras de alta função e capotes, o governo reforçará a distribuição direta,
verificando diretamente por meio da internet as condições de cerca de oito mil instituições
médicas no país. Aproveitando esta ocasião de contenção do ritmo de infecção,
aceleraremos várias atuações e faremos todos os preparativos diante do risco da próxima
onda.
Vendo a situação mundial, o avanço da infecção ainda continua. Nesta situação, definiremos
maior fortalecimento das medidas de prevenção na reunião da Central de Medidas do
Governo hoje. O número de países dos quais serão barrados a entrada ultrapassará 100
países. No período atual de economia globalizada, a suspensão do fluxo de pessoas
impacta fortemente na economia global. Houve uma grande estagnação das atividades
econômicas como na produção devido ao lockdown (bloqueio total de cidades) severo em
países europeus e nos Estados Unidos. Não haverá revitalização firme da economia do
Japão sem a recuperação da economia global. Mesmo tendo contido o ritmo da
contaminação no Japão, não haverá o verdadeiro fim a não ser que o avanço mundial da
infecção seja controlado.
Não devemos nos dedicar somente ao nosso país. Consideramos que é impossível resolver
fundamentalmente este desafio global com um pensamento introvertido.
Entretanto, não há tal espaço para os países onde a infecção está avançando. De fato,
muitos países que têm tomado liderança até então na política e na economia mundial não
têm espaço além de lidar com a infecção em seus países. Não se pode haver uma situação
em que surjam pontos fracos. É nesse momento que é preciso consolidar firmemente os
valores universais como a democracia, os direitos humanos e o estado de direito. Além disso,
devemos, em coordenação com os países com os quais compartilhamos tais valores, tomar
liderança de forma liberal e aberta no combate à doença infeciosa.
Na Reunião de Cúpula do G7 prevista para o próximo mês, sugeriremos o estabelecimento
de um pool do direito de patente que permite que os países em desenvolvimento também
usem medicamentos e vacina contra o vírus em âmbito transparente e global.
Em relação a equipamentos médicos de proteção, temos nestes meses aumentado a
fabricação interna. É de suma importância não depender de determinados países, mas criar
uma cadeia de suprimento sólida no mundo globalizado. É responsabilidade do Japão,
perante a comunidade internacional, tomar forte liderança para executar medidas contra a
doença e criar a ordem global na época do coronavírus, usando nossas experiências
acumuladas.
Pedimos a compreensão e a cooperação de todos os cidadãos na próxima etapa após a
revogação do estado de emergência também.
Encerro aqui meu discurso.

(Texto traduzido pela Embaixada do Japão no Brasil – grifos em negrito deste blog) 

 

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