Sonhos de primavera, na visão de Bruna Luise

 
AEra o início de uma primavera totalmente atípica em Tokyo, historicamente inédita, dominada pelo novo coronavírus. A contemplação da florada das cerejeiras teria que ser rápida, portanto, sem festa e sorrateira, em respeito ao estado de quarentena em que a cidade ia se mergulhando. Foi assim, num misto de culpa (por furar o cerco imposto pela quarentena) e fascínio pela intensa florada que chegou mais rápida do que os anos anteriores, que encomendamos um ensaio fotográfico com a fotógrafa brasileira Bruna Luise, radicada no Japão há mais de três anos. A sugestão foi de nossa filha, Nina, que também está morando e estudando em Tokyo há um ano. Uma das razões de estarmos lá, nesse momento inapropriado, era comemorar esse primeiro ano da Nina no Japão. O reencontro exigia um registro à altura de nossa coragem. 
Encontramos Bruna no ponto marcado. Na praça do chafariz do Parque Ueno, em frente ao Starbucks. Era um sábado ensolarado, o primeiro fim de semana da florada. As pessoas que deveriam estar escondidas, chegavam timidamente, só pra espiar as flores e encontrar algum alento. Bruna iniciou rapidamente seu trabalho. Depois de uma rápida inspeção no local, foi registrando nossos passos, e sem muita interferência, conseguiu captar momentos preciosos de nossa estada em Tokyo.  
O resultado do ensaio fotográfico lembrou cenas do filme An (Sabor da Vida) de Naomi Kawase, pela delicadeza de seu olhar, seu foco em detalhes expressivos de nosso inconsciente. 
Cena do filme “An” (Sabor da Vida), direção de Naomi Kawase.
Foto: ₢ Bruna Luise 2020 

 

Resolvemos entender melhor por que a Bruna escolheu viver e trabalhar no Japão. Ela nos concedeu esta entrevista após o nosso retorno ao Brasil.

Por que o Japão, Bruna?
Eu vinha muito descontente com o rumo que o Brasil estava em 2016. Não me sentia mais segura em local nenhum e seguia tendo problemas com burocracia no Brasil que eu sabia que não precisavam ser tão difíceis como eram. Morava em Porto Alegre na época. Em 2016 fiz um mochilão pela Ásia e um dos destinos foi o Japão. Ao chegar aqui me apaixonei pela cidade, pela cultura e pela segurança. Ao voltar para o Brasil os planos de conseguir vir morar no Japão entraram em ação. No final de 2016 eu já estava aprovada como estudante de Japonês e pude vir morar aqui com visto de estudante. Cheguei exatamente na virada do ano. 
O Japão me proporcionou muito crescimento pessoal e profissional até hoje. Muita qualidade de vida também. A fotografia no Japão é um grande mercado e ainda há muito espaço para ser explorado. Aos poucos pude trocar para um visto de trabalho e seguir no país. Hoje eles já me concederam o visto de 3 anos de permanência. 
Making of. Foto: Jojoscope
 
O que mais te atrai na cultura japonesa?
Eu adoraria dizer que cresci com interesse na cultura japonesa, mas isso não seria verdade. Eu me apaixonei pelo Japão foi quando coloquei os pés aqui. Já havia gostado através do filme Lost in Translation. Mas vir conhecer o país foi o que me abriu os olhos para essa cultura tão rica, tão única. Me sinto em uma aula de humildade e sabedoria diária morando aqui. A comida também com certeza é fantástica e ajuda no processo (risos). 
Making of Foto: Jojoscope
Café pós-ensaio. Foto: Mika Takahashi

Quais são as dificuldades que você encontra no seu dia a dia? (como estrangeira)
Uma das minhas maiores dificuldades ainda é não dominar a língua. Não tive escolha e tive que trabalhar, me tirando muito tempo de estudo. O fato de eu não dominar a língua às vezes me deixa em uma bolha cultural, me permitindo entender somente o que vou atrás de tradução e no que vejo. A cultura japonesa tem muitas nuances não contextualizadas que são bem complexas e sigo aprendendo sobre elas e sobre como me encaixar um pouco mais na sociedade.  Outra dificuldade é a de lidar com a saudade da família no Brasil. Acredito que toda pessoa morando no exterior passa pelo mesmo. Mas são escolhas que tomamos e precisamos lidar com elas. 

 


Como essa pandemia maluca afetou o seu trabalho?

Ela me afetou completamente. Quando ainda havia mais tráfego aéreo permitido no Japão, alguns clientes ainda viajavam para cá, porém agora com os aeroportos não aceitando muitos voos tive praticamente 99% de cancelamentos ou remarcações para o final do ano. Como todos os meus clientes são estrangeiros, fui afetada assim como todas as pessoas que trabalham com o turismo ao redor do mundo. 

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Mas fica a dica aqui, para quem está no Japão e quer registrar sua passagem por aqui. A Bruna faz ensaios fotográficos de pré-casamento, aniversário, enfim, comemoração de datas ou encontros especiais, em locais abertos e cheios de charme. Logo que o isolamento for dando uma trégua, é um bom momento para contratar os seus serviços. Para contatar ou agendar um serviço fotográfico com a Luise, o melhor caminho é pelo site www.brunaluise.com mas você pode dar uma espiada no Instagram dela. Lá também ela pode ser acessada via direct. 

Vejam aqui como ficou o nosso ensaio. Clique nas imagens em miniatura duas vezes, que ela vai aparecer grandona na sua tela. 

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