Por meio de conversas em torno dessa peça, tão singela e essencial, o filme “Chawan Project: Um Universo em Suas Mãos”, mostra o legado de imigrantes de japoneses e descendentes para a arte brasileira; documentário será lançado no dia 25 de maio, na Japan House em São Paulo
A tigela japonesa, chawan, é um objeto aparentemente simples. Mas, para fazer uma peça como essa, em cerâmica, é preciso muita dedicação, técnica e perseverança: é, portanto, um objeto que reflete a vida e os pensamentos do ceramista que a produziu. Esse é um dos temas centrais do documentário Chawan Project: Um Universo em Suas Mãos, idealizado pela ceramista Hideko Honma, que será lançado no próximo dia 25 de maio, às 18h, na Japan House em São Paulo.
No filme, de 60 minutos, seis ceramistas, imigrantes japoneses, mais um mestre de cerimônia do chá, revelam, por meio do seu trabalho e confecção de tigelas, detalhes de uma vida dedicada a essa arte e sua contribuição para a história da cerâmica no Brasil.
Os ceramistas que participam do documentário são Akinori Nakatani, Kenjiro Ikoma, Kimi Nii, Shugo Izumi, Shoko Suzuki e Mitsue Yuba. Todos aplicam em suas obras o que aprenderam no Japão ou no Brasil, muitas vezes como autodidatas, criando uma arte que só poderia ter surgido aqui no país: uma reunião única de técnicas, histórias, beleza e matérias-primas diversas.
Em sua origem, a chawan era usada na cerimônia do chá: é nela que a bebida é servida, sendo que apreciar a beleza desse objeto é parte do ritual. Assim, singela e atemporal em sua forma, a chawan tem desafiado os ceramistas a criarem peças ao mesmo tempo utilitárias e artísticas há séculos. Já nos lares dos japoneses ou de seus descendentes, a chawan é um objeto do dia a dia, usada nas refeições para se servir principalmente o arroz (gohan). Por isso, também é um item afetivo, que remete às boas lembranças em torno da mesa, e não deixa de ser um reflexo da cultura de um povo e seus descendentes.
Hideko Honma explica a riqueza contida em uma peça ao mesmo tempo simples e acolhedora. “A chawan é uma tigela que lembra o universo. Um universo que cabe em nossas mãos, onde entram a família, os amigos e a nossa vida”, explica.
Esse contexto da chawan, tanto nas artes como no cotidiano, é apresentado no documentário não apenas nos depoimentos dos ceramistas, como também pela participação dos mestres da cerimônia do chá Sôen e Sôichi Hayashi, da Fundação Urasenke do Brasil, e do antropólogo Victor Hugo Kebbe, estudioso da cultura e imigração japonesa.
Em um momento especial, o documentário também mostra como foi um workshop, realizado no ateliê de Hideko Honma, do grão-mestre Ôhi Chozaemon XI, da 11ª geração de uma tradicional família que faz a cerâmica do estilo raku no Japão desde o século 17. Ao trazer um novo olhar sobre a chawan, o mestre também oferece sua contribuição para a cerâmica brasileira.
Produzido pela Dô Cultural, com roteiro de Rafael Salvador e montagem e finalização de Paulo Barbagli, o filme é resultado de um trabalho iniciado em 2018. De junho a dezembro daquele ano, os ceramistas participaram de um ciclo de palestras, o Chawan Project, que teve a curadoria de Hideko Honma e foi desenvolvido por uma equipe composta por Flávia Sakai, Katia Shimabukuro e Luciana Tokita. O evento foi realizado na Japan House.
Devido ao sucesso das palestras, foi feita uma captação de recursos, via crowdfunding, para viabilizar a produção de um documentário para que as histórias apresentadas ficassem devidamente registradas. Além de cenas das palestras, foram feitas filmagens nos ateliês dos ceramistas, que mostram imagens do dia a dia dos ceramistas em torno dos fornos, argilas e peças.
O documentário torna-se, dessa forma, um valioso registro do legado que está sendo construído para a história da imigração japonesa e da cerâmica no Brasil.
Serviço:
Lançamento do documentário Chawan Project: Um Universo em Suas Mãos
Data e horário: 25 de maio, às 18h
Local: Japan House em São Paulo (av. Paulista, 52)
Entrada: Gratuita. É preciso retirar a senha uma hora antes, no próprio local.
Facebook e Instragram: @chawanproject
Ficha Técnica
Chawan Project: Um Universo em Suas Mãos
Idealização e curadoria: Hideko Honma
Produção: Jo Takahashi + Dô Cultural
Roteiro: Rafael Salvador
Montagem e Finalização: Paulo Barbagli
Direção de Fotografia: Paulo Barbagli e Rafael Salvador
Quem são os ceramistas que participam do documentário
Akinori Nakatani nasceu em Osaka, em 1943. Emigrou para o Brasil em 1974, ainda impressionado com uma reportagem sobre o Amazonas na televisão que havia assistido aos 15 anos. Nakatani já fazia cerâmica no Japão. Seu primeiro ateliê foi estabelecido em São Simão, interior de São Paulo, onde fez tijolos e com eles construiu seu primeiro forno. Vive atualmente em Mogi das Cruzes (SP)
Kenjiro Ikoma nasceu na província de Mie, em 1948, e chegou ao Brasil em 1973. Seu grande mergulho nessa arte começou quando tinha 28 anos, como uma maneira de resgatar as lembranças e saudades do Japão e continua até hoje. Muitos dos instrumentos que ele usa em seu trabalho com a cerâmica foram criados por ele mesmo.
Kimi Nii é natural de Hiroshima, onde nasceu em 1947. Chegou ao Brasil ainda criança, em 1957. Graduou-se em desenho industrial pela Fundação Armando Álvares Penteado. Começou a fazer cerâmica em 1978 e seguiu desenvolvendo seu trabalho de maneira quase autodidata. Cria e executa peças de escultura e utilitárias.
Mitsue Yuba nasceu no antigo assentamento de imigrantes japoneses Aliança 1 (interior de São Paulo), em 1957. A comunidade Yuba, uma das mais antigas e tradicionais colônias nipo-brasileiras, é um recanto autossustentável, por onde passaram muitos pintores, bailarinos, músicos, escritores e outros artistas japoneses. Mitsue, herdeira de toda essa tradição, traduz em sua cerâmica o espírito de Yuba. Ela aperfeiçoou as técnicas de Yuba com a ajuda da ceramista Shoko Suzuki.
Shoko Suzuki nasceu em 1929 em Tokyo. Começou a fazer cerâmica no Japão. Mudou-se para o Brasil em 1962, a fim de iniciar uma nova vida. Hoje, prestes a completar 89 anos, continua a criar e a fazer planos para o futuro. Suas obras são destacadas no cenário da arte brasileira.
Shugo Izumi nasceu em 1949, no Japão. Mudou-se para o Brasil em 1975, estabelecendo-se inicialmente como agrônomo em Suzano (SP), e aprendeu cerâmica em Cunha (SP). Em 1976, construiu seu primeiro forno no estilo noborigama, em Atibaia, também no estado de São Paulo.
Hideko Honma é filha de imigrantes japoneses. Formou-se em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e fez pós-graduação em História da Arte na Universidade de São Paulo. Estudou cerâmica na tradicional região de Arita, no Japão. Alia as técnicas aprendidas lá com matérias-primas brasileiras, como podas e galhos de café, bambu e grama, para criar os esmaltes que dão cor e textura a suas peças.