Comemorando a decisão do Comitê Olímpico Internacional, que decidiu por Tokyo como cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2020, Jojoscope remonta ao tempo, para lembrar o filme OLIMPÍADAS DE TOKYO, de Ichikawa Kon, lançado mundialmente em 1965.
- Cartaz do filme Olimpíadas de Tokyo, criado por Kamekura Yusaku

Os tempos eram outros. O Japão ainda se recuperava dos escombros da Segunda Grande Guerra. Afinal, havia se passado apenas 15 anos desde a explosão da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, quando Tokyo foi escolhida a cidade sede das Olimpíadas de 1964. Tokyo não era essa cidade que conhecemos hoje, e concorria como a zebra. A infraestrutura urbana ainda era insuficiente, a rede de transportes públicos, especialmente o metrô estava para ser implementada, mas havia um ritmo acelerado de industrialização e uma forte expectativa no reerguimento da nação. O Japão era um país emergente, que esperava por uma boa oportunidade para entrar no time do Primeiro Mundo. Essa oportunidade veio com as Olimpíadas. Foi o gatilho que impulsionou as grandes melhorias urbanas para preparar a cidade para acolher atletas e turistas do mundo todo. Era o momento de mostrar para o mundo que o Japão estava renascendo, mais forte e mais confiante em seu potencial.
Ichikawa Kon, o cineasta de “A Harpa da Birmânia” (Biruma no Tatekoto, aqui no Brasil, “Não Deixarei os Mortos”), dirigiu o documentário-épico “As Olimpíadas de Tokyo” (Toukyou Orimpikkusu), lançado em 1965, que revolucionou a linguagem do cinema documental. Trata-se de uma superprodução que contou com a participação de 164 cinegrafistas, 5 câmeras Techniscope*, importadas da Itália,
poderosíssimas lentes de 200 a 1600 mm, e uma tecnologia ótica de ponta para a época. Cenas de alto impacto se misturavam a sequências em câmera lenta, provocando uma poesia poética encantadora. A crítica conclamou: “documentário ou arte?”. Kurosawa, muitos anos após, iria aplicar este ensinamento em cenas de batalha de Ran.

Merece destaque também a trilha sonora de Mayuzumi Toshiro, cujo trabalho impressionou o diretor americano John Houston, que o convidou para compor a música para o filme “A Bílbia” (The Bible, 1966).
No Brasil, o filme estreou no Cine Joia, em São Paulo, o cinema especializado nas produções Toho.

(*) Techniscope é um formato de filme concebido pela Technicolor Italia em 1963. Foi um processo de filmagem bastante empregado nos anos 60, em que o filme 35 mm avançava na câmera de duas perfurações por imagem no lugar das quatro perfurações usuais. Isso dava uma imagem negativa no formato Scope, muito mais ampla do que o widescreen. Para obtenção de cópias de projeção, a imagem era comprimida horizontalmente (anamorfose) em laboratório e ampliada na dimensão do Scope.

Toukyou Orinpikku, (Olimpiad of Tokyo), 1966, direção Ichikawa Kon, produção Toho, 170 min. Direção de arte de Kamekura Yusaku, que também assinou todo o design gráfico dos materiais promocionais das Olimpíadas de Tokyo.
Assista aqui um trecho raro do filme, a maratona, que tradicionalmente encerra a Olimpíada. Abebe Bikila, da Etiópia foi o grande vencedor, ultrapassando o japonês Tsuburaya Kokichi, que ficou com a medalha de bronze. Nunca as lentes foram tão poderosas para retratar momentos tão intimistas no esporte. A grandeza da trilha sonora de Mayuzumi Toshiro realça cada movimento.
E aqui os primeiros dez minutos do filme, mostrando a trajetória da tocha olímpica desde de Grécia, e chegando a Hiroshima, no Memorial da Paz, num percurso carregado de simbolismo. O trajeto da tocha de Hiroshima a Tokyo, com fascinantes tomadas aéreas é impressionante. O trecho vai até o início da cerimônia de abertura, com a então Sua Majestade, o Imperador Hirohito. O então príncipe Akihito também aparece num rápido trecho. Cenas históricas.
