Academia Paulista de Letras recebe Mauricio de Sousa em seu quadro de imortais.
Foi na noite de uma quinta-feira (12) já esboçando o inverno que o desenhista e empresário Mauricio de Sousa tomou posse na Academia Paulista de Letras, passando a ocupar a cadeira de número 24, que se tornou vaga com a morte do poeta e jurista Geraldo de Camargo Vidigal. Mauricio teve uma votação recorde para ingressar na Academia: 38 dos 39 imortais o indicaram para esta cadeira, entre eles a escritora Lygia Fagundes Telles. (Na foto: recebendo o título das mãos de Dom Fernando Antônio Figueiredo. Foto de Bete Faria Nicastro, para o Portal G1).
Mesmo nma pesquisa popular realizada pelo Ibope em 2008 com mais de cinco mil pessoas colocou Mauricio de Sousa como o décimo escritor mais admirado do Brasil em todos os tempos, ficando atrás apenas de nomes como Machado de Assis, Vinicius de Moraes, Jorge Amado e Paulo Coelho.
“Além da honra de me sentar ao lado de luminares da literatura e intelectualidade, beber de suas luzes e inteligência, gostaria de atrair crianças e jovens para conhecerem a Academia e seus representantes”, explicou Mauricio. “E, com estes, discutir eventos que possam rejuvenescer a casa com a presença dessas crianças, afinal, são eles os leitores ou futuros leitores das nossas letras – sem esquecer meu lado quadrinhos, que me trouxe até aqui e abriu caminho para minhas incursões também em livros”.
Rodeado por seus filhos, sua esposa e diretora de arte da Mauricio de Sousa Produções, Alice Takeda, além dos bonecos de Mônica, Cebolinha, Cascão e Chico Bento, Mauricio era pura luz.
Jojoscope replica este ensaio, que foi publicado na Revista Made in Japan, em 2008, contando um pouco das relações de Mauricio de Sousa com o Japão, em especial, com seu grande amigo e papa do mangá, Osamu Tezuka.
TEZUKA E MAURICIO: UMA AMIZADE ETERNA
Jo Takahashi
Foi em 1984. Começava a trabalhar na Fundação Japão e fui escalado para ser intérprete de Tezuka Osamu, o maior mangaka do Japão, o Walt Disney do Sol Nascente. Para um cartunista frustrado que eu fui na adolescência, era como reencontrar os sonhos da juventude. A agenda era inevitável: uma reunião com Mauricio de Sousa. Intermediar este encontro com os dois maiores cartunistas transformou-se em um dos momentos mais marcantes da minha vida, e mesmo hoje, passados mais de mil projetos realizados, sinto que este início de carreira continua sendo, ainda hoje, o mote inspirador de tantos outros que ainda virão. Cruzamentos, pontos de vista. Encontros, alguns desencontros. Mas tudo deliciosamente imprevisível.
Recentemente, tivemos a oportunidade de convidar Mauricio para criar a mascote para o Centenário da Imigração Japonesa. Novas emoções: a mascote, criada em tempo recorde, e com uma inspiração até doméstica, pois teve como modelo o filho de Mauricio e de Alice Takeda, parceira de tantas criações, foi apresentado oficialmente ao presidente Lula, em cerimônia oficial realizada no Palácio do Itamaraty, no mês que inaugura o ano do Centenário. A mascote, um menino nikkey todo up-to-date, cabelinho espetado modelado com gel, piercing na orelha, carinha ligeiramente marota, foi recebido com entusiasmo e batizado de Tikara (força, em japonês). Mas surpresa maior seria o nascimento, dias depois, de uma amiguinha, compondo o parzinho mais charmoso do Centenário. Convidados a integrar a Turma da Mônica, já deverão aparecer nos quadrinhos em maio. Foi a maneira acolhedora que Maurício encontrou de expressar a integração da comunidade japonesa no seio da sociedade brasileira.
Quando Tezuka faleceu em1989, Mauricio prestou uma comovente homenagem: Convocou seus personagens, Mônica, Cebolinha, Horácio e companhia, para consolarem os órfãos Astroboy, Kimba, o rei leão e Safire, num momento de dor. O desenho “colaborativo” foi a prova máxima da curta, porém intensa amizade dos dois.
Neste momento em que Mauricio homenageia a comunidade japonesa em seu centenário, a lembrança da amizade dos dois retornou à minha memória com mais intensidade ainda. Tezuka teria gostado de ver o desdobramento desta amizade com o Japão que o seu colega brasileiro acaba de conceber.