O Nô é uma das manifestações teatrais mais antigas do Japão. Zeami Motokiyo (1363-1443) é o codificador maior desta arte que combina canto, dança, poesia e música de uma maneira refinada e altamente simbólica. O Teatro Nô pode ser considerado a síntese da cultura japonesa, por excelência. Em 2001, a Unesco reconheceu o teatro Nô como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade.

Existem cinco escolas (estilos) de Nô: Kanze, Komparu, Hosho, Kongo e Kita, das quais a primeira é sensivelmente grande. A Kanze, a Komparu, a Hosho e a Kongo foram fundadas no século XIV e a Kita no início do século XVII.
Esta arte também foi trazida ao Brasil pelos imigrantes japoneses, sendo que aqui existem representantes de quatro das cinco escolas.

Em 1939, foi fundado o primeiro grupo de Nô, o Hakuyou Kai, por Nobuyuki Suzuki. O Hakuyou Kai teve uma atividade profícua e representada por praticantes, em sua maioria, das escolas Kanze e Hosho. Ao longo de meio século, o grupo manteve a prática do Nô e realizou mais de uma centena de apresentações até a década de 1990, quando se extinguiu. Alguns de seus integrantes originais continuam em atividade e, hoje, integram a Associação Brasileira de Nôgaku (ABN).
A ABN, ativa desde 2008 e oficialmente fundada em 2013, é formada por imigrantes japoneses e atores brasileiros, organizados nos seguintes grupos: Houyou Kai (criado em 1988, seguidor da escola Kanze); Brasil Hosho Kai (fundado em 1990, seguidor da escola Hosho); Shouyou Kai (criado em, 2008, seguidor da escola Kita) e Brasil International Noh Institute (fundado em 2013, seguidor da escola Kongo).
A junção de escolas distintas de Teatro Nô seria muito rara no Japão. No Brasil, representantes de diferentes estilos tem se unido desde 1939, fortalecendo, divulgando e dando expressão à cultura japonesa através desta arte clássica. A ABN tem compartilhado seu conhecimento com artistas brasileiros num diálogo intercultural, dando um aspecto singular às peças que apresenta. O termo Imin Nô, criado pelo diretor artístico do grupo, Jun Ogasawara, define o espírito da ABN: “Nô de imigrantes, por imigrantes e para imigrantes”. Como, de certa forma, somos todos imigrantes, o termo define um encontro-reencontro com a singularidade que nos universaliza.
Em 2013 a ABN realizou pela primeira vez no Brasil, a montagem e apresentação de uma peça integral, Funa Benkei, patrocinada pela Fundação Japão. Para a ocasião do V Encontro de Nôgaku, a peça escolhida foi a célebre Hagoromo, ou “O manto de plumas”, que será apresentada em uma versão reduzida. Hagoromo é de autoria de Zeami e conta a história de um pescador que encontra um lindo manto de plumas pendurado sobre o ramo de um pinheiro, na Baía de Miho, perto do Monte Fuji. Quando decide levar o tesouro consigo, ouve a voz de um anjo (tennin), solicitando que o devolva, pois sem ele não poderia voltar ao paraíso. O pescador torna-se ainda mais decidido a não devolver o manto, quando a tennin começa a fenecer. Impressionado, decide devolvê-lo desde que ela realize uma dança celestial. A tennin concorda e diz que só poderá dançar vestida com seu manto. O pescador duvida de sua palavra dizendo que, com o manto, ela fugirá sem dançar. “A falsidade só existe entre os homens”, responde ela. Envergonhado, o pescador entrega-lhe o manto de plumas e o anjo realiza danças para alegrar os seres humanos. Depois de derramar uma chuva de bênçãos, ela retorna aos céus.
Por uma feliz coincidência, esta foi a primeira peça encenada no Brasil (e na América Latina) pelo pioneiro Hakuyou Kai, em 1964, também em versão reduzida. Na apresentação da ABN, o manto e a coroa do anjo serão os mesmos utilizados há exatamente 50 anos. Além de Hagoromo serão apresentados trechos de canto e dança (em estilos diferentes) das seguintes peças: Tenko, Takasago, Yuya, Shojyo, Aoi no uê e Semimaru.
Serviço:
IMIN NÔ – V Encontro de Nôgaku – Outono
dia 2 de junho às 14hs
Local: TUCARENA – PUC/SP
Endereço: entrada pela Rua Bartira, esquina com a Rua Monte Alegre, 1024 – São Paulo Mais informações pelo telefone 99416-1101
Ficha Técnica Hagoromo
shite: Ângela Nagai
waki: Yasuyoshi Takeshita
waki tsure: Célio Amino e Roger Muniz
outsuzumi (tambor grande): Shigeru Matsumoto
kotsuzumi (tambor pequeno): Hiroko Yamaguchi
fue (flauta): Masakuni Yamaguchi
ji utai (coro fundamental): Masakuni Yamaguchi
Hideyo Isoda
Kenjiro Ikoma
Kimiko Nagata
Michiko Tanaka
Yasuko Tanaka
Yoji Tsuruta
Jun Ogasawara
Angélica Figuera
Beatriz Sano
Luciana Beloli
Fernanda Mascarenhas
kouken (direção e assistente): Jun Ogasawara | Toshiyuki Tanaka
tradução de texto: Flavio Caputo
foto: Mathilde Lawrynow | Carla Angulo
vídeo: André Menezes
Agradecimentos
Madalena Nishimura, Osamu Kobayakawa, Noriko Onozato, Shintai Kyoiku Kenkyujyo, Ogamo Rebecca, Udaka sensei, família Fujii, José Carlos Sachetti, Daniela Quevedo e Ishikawakenjinkai.
Realização
Comitê Executivo IMIN NÔ | Associação Brasileira de Nôgaku
Apoio
Fundação Japão | TUCA | Wanokai | Encontros das Artes do Corpo PUC 2014



