Kenji Ekuan: um monge do design


Exposição retrospectiva de seu trabalho, três meses antes de seu falecimento.
Exposição retrospectiva de seu trabalho, três meses antes de seu falecimento.

Ekuan Kenji  (1930-2015) era considerado um papa do desenho industrial japonês. Essa aura religiosa ele herdou da família, uma tradicional linhagem de monges budistas. Seu pai foi vítima da Bomba Atômica em Hiroshima e Kenji tinha tudo para ser o herdeiro do templo. Mas ele optou pela carreira de designer industrial e formou-se na célebre Tokyo National University of Fine Arts and Music em 1955. Abriu o seu escritório dois anos depois, a GK Industrial Design Group, que é uma grande referência no design de produtos, que vão desde a famosa molheira de shoyu para a Kikkoman, até o mega luxuoso trem bala Komachi, que liga Tokyo à região noroeste do Japão. É de Ekuan também o projeto dos trens do Narita Express, que liga o centro de Tokyo ao aeroporto internacional de Narita em alta velocidade.

Narita Express, que liga o centro de Tokyo ao Aeroporto Internacional de Narita.
Narita Express, que liga o centro de Tokyo ao Aeroporto Internacional de Narita.

Ganhador de diversos prêmios internacionais, entre os quais o Golden Compass, da Itália, morreu em Tokyo, aos 85 anos de idade.

Molheira para o shoyu Kikkoman, sua obra prima.
Molheira para o shoyu Kikkoman, sua obra prima.
Estudos para a molheira Kikkoman
Estudos para a molheira Kikkoman

 

Adélia Borges
Adelia Borges

Veja aqui o depoimento de Adélia Borges, curadora, crítica e jornalista especializada em Design.

“Que tristeza a perda de Kenji Ekuan, grande designer e sobretudo grande líder dos designers no Japão e no mundo. Conheci-o num juri de que participamos juntos, em 1990 e 1992, em Stuttgart. Em 1994, graças a uma bolsa da Fundação Japão, passei dois meses nas sedes da GK Design em Tóquio, Kioto, Osaka e Hiroshima. Graças a seu enorme prestígio fui recebida por cerca de 100 designers – do porte de Ikko Tanaka e Shigeo Fukuda – em seus escritórios, previamente escolhidos por mim a partir da orientação do Kenji. Inesquecíveis as conversas com um ser humano iluminado, que trocou a vida como monge budista à qual estava predestinado pelo sacerdócio do design. Quando viu o Japão arrasado no pós-guerra – inclusive com a morte de vários de seus familiares que moravam em Hiroshima -, decidiu que a melhor forma de ajudar seu país a se reerguer seria por meio da difusão e incentivo ao design. Brincava dizendo que se tivesse pedido uma porcentagem ínfima pela tiragem da garrafinha de shoyu em vez de ter sido remunerado pelo projeto seria um milionário. RIP!”

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