Yoji Yamada e Yasujiro Ozu nesta terça-feira

Yasujiro Ozu: retratos da decadência da burguesia

Continua em cartaz a mostra Japão em 4 Cinemas. As sessões de cinema são sempre às terças feiras. E nesta terça feira, serão apresentados dois filmes no SESC Pinheiros.

Kazoku (Família): atração das 15hs no SESC Pinheiros
Yoji Yamada: analisando loosers e outsiders

“Familia” (Kazoku), é um filme de 1970, dirigido por Yoji Yamada e será exibido às 15hs.

Com Chieko Baisho e Ryu Chishu no elenco, conta a história de uma família que emigra para a ilha de Hokkaido, ao norte do Japão, devido ao fechamento da mina de carvão onde o pai da família trabalhava.  Yamada ficou conhecido por dirigir a série mais longa do cinema, reconhecida até pelo Guiness Book, que foi “É Triste Ser Homem” (Otoko wa tsuraiyo), que só terminou com a morte do ator Atsumi Kiyoshi. Yoji Yamada é um retratista da família japonesa, da sociedade japonesa, focando sempre os loosers e pessoas humildes que vivem à beira da sociedade. Em 2002, seu filme “Tasogare Seibei” foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, perdendo para  o canadense “As Invasões Bárbaras”.

“Fim de Verão” (Kohayagawa-ke no Aki) é um filme de 1961 dirigido por Yasujiro Ozu, e será exibido às 17h15.

Comentário Jojoscope:

Fim de verão: o ocaso da burguesia

Fim de Verão extrapola, de certa maneira, o home drama típico da filmografia de Ozu, para trabalhar um tema maior: o declínio da burguesia japonesa. O filme capta um autêntico processo histórico no Japão pós guerra: boa parte das empresas familiares tradicionais foram absorvidas pelas grandes corporações. Assim, ao mesmo tempo em que descreve um fenômeno moderno e urbano, o filme remete a uma estrutura social do passado.

E do mesmo modo como a família representa o social, toda a sociedade está representada na família de Ozi, especialmente nesta que dá título ao filme, que abrange um amplo espectro de ideias e experiências.

Dentro da obra de Ozu, a família Kohayagawa constitui talvez o mais autêntico “iê”, ou seja, o modelo de família patriarcal japonesa, remanescente ainda da tradição feudal, que, enquanto célula ideológica central na sociedade, forneceu a base de várias instituições sociais, como a empresa, o mercado e o estado. Nesse contexto, assim como nos filmes anteriores, o casamento “arranjado” (o “miai”), no qual uma das partes é quase sempre Noriko, representada pela atriz “sempre Ozu”, Setsuko Hara, é uma forma de manutenção do “iê”.

A geografia do filme reproduz essa mesma dialética entre velho e novo. A moderna cidade de Osaka, com seus prédios de escritório é símbolo por excelência do “novo Japão”. Já na pousada da amante, na parte velha de Kyoto, o tempo parece não ter se passado.

De superfície mundana, Fim de Verão inicia-se de forma leve, como a indicar uma comédia, quase sem sugerir a gravidade que se segue. Com humor e comoção somos voluntariamente conduzidos, de maneira cada vez mais intensa, a encarar a morte de forma direta e inflexível. O motivo central do tema é a transitoriedade das coisas, bem sintonizado com a estética japonesa, ou até mesmo budista. Ao final do filme pergunta-se: “a vida é muito curta, não é?”. Os personagens são conscientes das grandes leis imutáveis que governam suas vidas.

O filme, originalmente se chama O Outono da Família Kohayagawa. No entanto, como cineasta da vida doméstica, Ozu não pretende com seus títulos, apontar o período em que a ação se passa. Refere-se antes, ao espírito de diferentes estágios da vida.

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