
O tornado nos Estados Unidos destrói casas assim como tsunami no Japão.
Os suicidas enlouquecidos matam em escolas, mesquitas, shopping centers, igrejas, ruas.
Há desastres naturais: a Terra é um planeta vivo.
Há movimento de ventos, de águas, de terras.
Movimentos internos, sutis, que nos parecem tão fortes e violentos.

Há violências humanas: ódios, traumas, vinganças, poder, descontrole.
Movimentos internos dos ventos nos corpos, nas mentes. Movimento dos líquidos, dos sólidos.
Movimentos grosseiros, fortes, violentos.
Mas há a ternura, há o cuidado, há o sol suave no céu azul e nas plantas verdes brilhantes.

Cada gotícula de orvalho se dissolve. Os pássaros cantam, voando amarelo, azul canário, verde periquito.
Nuvens brancas passageiras, se movem e as folhas dos coqueiros, das goiabeiras, mangueiras balançam suavemente.
Há praias mansas, de águas translúcidas.
Há praias bravas de águas revoltas.

Depois do tsunami o mar do nordeste japonês está calmo. Os escombros amontoados são aos poucos transformados, remexidos, preparados para a renovação.
Depois das violências no Realengo, no Rio, há uma calma tristonha pelos corredores e salas de aulas. Alunos, alunas, professores e professoras precisam continuar seu aprendizado. Há uma reflexão, talvez, sobre acolhida e rejeição.
Os noticiários procuram entender os assassinos.
Pesquisam suas vidas, suas casas, seus textos e interesses.
Queria pesquisar também as vítimas – as meninas que eram lindas e tinham suas vidas, suas casas, seus textos e seus interesses.
Queremos sempre saber as causas para evitar que os acidentes ocorram.
Há sismógrafos, há seguranças, há sistemas de proteção e prevenção. E se tudo falhar, como falhou? A lágrima é de água e sal.
O que fazer do vento a mais de duzentos quilômetros por hora?

O que fazer das águas a mais de oitocentos quilômetros por hora?
O que fazer do descontrole emocional, da loucura a milhares de quilômetros por hora?
Países em lutas internas. Humanos matando humanos. Humanos matando a natureza. A vida destruindo a vida.
Renova ação.
Recupera ação.
Nos sentimos irmanados no sofrimento e na dor.
Assim como no Japão, norte americanos fazem uma fila e passam sacos de areia tentando minimizar a invasão dos rios nas casas, nas ruas, nas almas dos seres.
Podemos sim fazer muitas coisas.
Podemos nos unir e reconstruir casas e cidades.
Podemos nos unir e descobrir como controlar a radioatividade.
Podemos nos unir e descobrir como funciona a mente humana.
Podemos nos unir e cultivar um bem muito maior do que as limitações das religiões mal compreendidas, das filosofias não entendidas, dos propósitos mal acabados, das economias mal articuladas, das ambições desenfreadas.
Um mundo de ternura.
Masaru Enomoto, que fotografou moléculas de água, nos pede a orar pelas águas de Fukushima.
Perdoem-nos águas, pelas nossa ignorância e pela poluição radioativa. Nós amamos você água sagrada que permeia toda a Terra.

Pensamentos de amor, de cuidado, de ternura.
Circulando.
Acreditando.
Chega de violências humanas. Já nos bastam as da grande natureza. Esta sim, não com raiva, não por rancor ou vingança. A Terra se move, o pluriverso está vivo.
Sentimentos humanos precisam ser entendidos, transformados, cultivando o pensamento maior de fazer o bem a todos os seres.
Isso é treinamento, prática incessante.
Nas escolas, nas casas, nas televisões, nas internets. Um processo coletivo, emergencial.
Por que divulgar tanto o mal?
Por que não divulgar o bem?
A alegria do nascimento, a renovação de Kobe, de Hiroshima. As plantas, os pássaros, as crianças correndo livres.
Cabe a nós, a cada um e cada uma de nós, a nos religarmos à beleza da vida.
Cabe a nós, a cada um e a cada uma de nós, a construir uma cultura de paz.
Comecemos com humildade em atitudes simples, como as pessoas do Japão dividindo alimentos, tristezas e esperanças.
Há tanto a ser feito.
Faça o seu melhor em cada momento.
Perceba as emoções prejudiciais – inveja, ciúmes, raiva, rancor.
Despeje sobre elas algumas gramas de amor, compreensão, sabedoria e compaixão.
Seja a transformação que quer no mundo.
Menos armas, menos munição, menos medo, menos reclamação.
Vamos colocar nossa energia de vida em bem da própria vida?
Sorria, o coelhinho está na lua, trabalhando, suando, batendo o motchi (bolinho de arroz especial).

Confie e aprecie a vida.
Mesmo na dor, mesmo na perda, há sempre uma nova partida.
Que os méritos de nossas práticas se estendam a todos os seres e que possamos todos e todas nos tornarmos o Caminho Iluminado.
Mãos em prece
Monja Coen

Monja Coen Sensei é missionária oficial da tradição Soto Shu – Zen Budismo com sede no Japão e é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen Budista, criada em 2001, com sede em Pacaembu.
Iniciou seus estudos budistas no Zen Center of Los Angeles – ZCLA. Foi ordenada monja em 1983, mesmo ano em que foi para o Japão aonde permaneceu por 12 anos sendo oito dos primeiros anos no Convento Zen Budista de Nagoia, Aichi Senmon Nisodo e Tokubetsu Nisodo.
Participou de vários cursos e programas de formação para monges tendo se graduado no mestrado da tradição Soto Shu.
Retornou ao Brasil em 1995, e liderou as atividades no Templo Busshinji, bairro da Liberdade, em São Paulo, e sede da tradição Soto Shu para a América do Sul durante seis anos. Foi, em 1997, a primeira mulher e primeira pessoa de origem não japonesa a assumir a Presidência da Federação das Seitas Budistas do Brasil, por um ano.
Participa de encontros educacionais, inter religiosos e promove a Caminhada Zen, em parques públicos, com o objetivo de divulgação do princípio da não violência e a criação de culturas de paz, justiça, cura da Terra e de todos os seres vivos.
Inspira-se na frase de Mahatma Gandhi:
Temos que ser a transformação que queremos no mundo.
Comunidade Zen Budista
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